Corrida contra o tempo
Os dados de agosto do Ministério da Saúde mostram que 65.911 pessoas aguardam na lista para receber um órgão
A doação de órgãos é um tema bastante recorrente no noticiário nacional. Milhares de pessoas estão nas diversas filas do Sistema Nacional de Transplantes à espera de um coração, de um rim, de um fígado, de medula óssea ou mesmo de córneas. A oferta é sempre menor que a demanda e isso gera muita expectativa, não só para o paciente como para seus familiares.
Nos últimos dias, o assunto voltou a ser destaque depois da confirmação de que o apresentador de televisão Fausto Silva está precisando de um coração novo. Ele foi internado, nos primeiros dias do mês, com insuficiência cardíaca. A doença se agravou e só um transplante pode salvar sua vida. Enquanto aguarda na fila, Faustão, de 73 anos, busca usar sua influência para incentivar novas doações. A família dele chegou a fazer um canal nas redes sociais com vídeos sobre o assunto, mas a iniciativa acabou interrompida pela plataforma.
No momento, o apresentador está sob cuidados médicos intensivos, fazendo diálise e tomando uma série de medicamentos que mantenham seu coração funcionando. Ele está na fila única de transplantes, organizada pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, onde aguarda um doador compatível. A fila leva em conta, na hora de escolher o paciente que será beneficiado com o órgão, várias questões técnicas como o tempo de espera, a tipagem sanguínea e a gravidade do caso.
A situação de Fausto Silva é muito parecida com a do empresário sorocabano Eric Moreno. Aos 47 anos, ele está internado há mais de sete meses no Instituto do Coração, em São Paulo, também à espera de um coração novo. A história de Eric foi tema de reportagem do jornal Cruzeiro do Sul em julho deste ano. Desde então, a situação dele mudou muito pouco e a luta pela sobrevivência continua.
Enquanto aguarda na fila, Eric tem procurado divulgar a importância da doação de órgãos através de campanhas educativas nas mídias sociais. A ideia veio depois que ele soube que mais de 60 mil pessoas esperam na fila por um transplante. Foi aí que ele decidiu, mesmo de uma cama de hospital, promover uma série de discussões e debates, criar camisetas para chamar a atenção sobre o assunto e publicar textos e vídeos nas redes sociais. O objetivo do empresário é incentivar conversas sobre o tema entre os familiares ainda em vida para que, dessa forma, seja autorizada a doação dos órgãos após a morte de um ente querido.
Durante a entrevista, Eric explicou o motivo dessa mudança de atitude. “Como é uma internação tão longa, eu podendo morrer a qualquer momento, pensei: ‘Não vou esperar sair daqui para começar a falar sobre o assunto’”. Foi aí que surgiu o projeto “Eu Compartilho a Vida”.
Ao lado de Faustão, Eric está na fila por um transplante de coração. Os dois lutam para encontrar um órgão que seja compatível e, assim, ganhar uma nova chance de viver. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem o maior sistema público de transplante do mundo. Todos os pacientes que precisam de um transplante de órgão são incluídos na única lista de espera do País. Isso independe de o paciente estar internado em uma rede privada de saúde ou em alguma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
A escolha do receptor do órgão a ser transplantado é feita pelo próprio sistema do Ministério da Saúde, com base em critérios técnicos, que não incluem, por exemplo, o poder aquisitivo e a popularidade do paciente. Também não é possível o médico ou outro profissional da saúde selecionar o órgão ou o doador.
Os dados de agosto do Ministério da Saúde mostram, ainda, que 65.911 pessoas aguardam na lista para receber um órgão no País. Destas, mais de 36 mil esperam por um rim, 25,6 mil por uma córnea e 2,2 mil por um fígado. No caso de transplantes de coração, são 378 pacientes na fila, a maioria, cerca de 206, só no Estado de São Paulo.
É uma corrida contra o tempo. De um lado pacientes que precisam de ajuda para sobreviver, do outro, familiares em luto pela perda de um ente querido. No meio desses dois dramas, médicos e enfermeiros se esforçam para viabilizar as doações. É por esse motivo que o tema precisa ser cada vez mais discutido, para que um número maior de doadores esteja apto a contribuir na hora da partida e que a captação de órgãos seja apenas uma questão técnica e não um sofrimento para quem precisa decidir num momento de tanta dor.