Doação de órgão é tema de campanha nas redes sociais
Empresário de Sorocaba está internado há seis meses no Incor, em São Paulo, à espera de um coração
O empresário Eric Moreno, da região da Vila Hortência, em Sorocaba, está promovendo uma campanha para conscientizar a população sobre a doação de órgãos. Há cerca de um ano e meio Eric teve um infarto e, após enfrentar complicações devido ao ataque cardíaco, precisou ser internado no Instituto do Coração (Incor), na capital paulista. Aos 47 anos, ele aguarda há seis meses pela doação do órgão compatível.
Após ter conhecimento sobre a realidade do País, em que mais de 50 mil pessoas esperam na fila por um transplante, ele decidiu, então, promover um debate por meio de camisetas e publicações nas redes sociais. O intuito é incentivar conversas sobre o tema entre os familiares ainda em vida para que, dessa forma, seja autorizada a doação dos órgãos após a morte de um ente querido.
Atualmente, com apenas 20% do coração funcionando, o empresário faz exames diários e permanece 24 horas com um remédio na veia -- medicação que o mantém vivo. Apesar de precisar com urgência do órgão, Eric encoraja o ato de solidariedade para ajudar também os colegas, de todas as idades, que assim como ele estão internados, na esperança de retornar para casa.
“Como é uma internação tão longa, eu podendo morrer a qualquer momento, pensei: ‘Não vou esperar sair daqui para começar a falar sobre o assunto’. Eu vendo a fila, o pessoal internado, virou uma família. Aqui tem um quinto andar que é só pediátrico, tem criança que já nasce com problema de coração e nem vai para casa. Do jeito que nasce, já fica aqui esperando doador. E, se não tem doador para pessoa adulta, imagina para uma criança, como é difícil”, explicou o empresário.
Assim, Eric conversou com um amigo, o empresário do ramo de uniformes Jefferson Lunardon Ruiz, e solicitou que fizesse 50 camisetas com a estampa “Sou doador -- Seja você também”. Comovido com o pedido, Ruiz doou as roupas, que foram distribuídas no Incor. Rapidamente, a campanha virou um sucesso dentro do Instituto e logo rompeu as barreiras do hospital.
“Eu tenho um grupo fechado com 250 empresários. O Eric está nesse grupo e ele já vinha relatando e todo mundo mandava energia positiva para ele. A ideia surgiu por parte dele no grupo. Ele falou: ‘O Jefferson me ajudou a fazer as camisetas, deu muito certo e eu estou precisando de ajuda para continuar essa campanha, que precisa ser feita no Brasil, porque tem mais de 50 mil pessoas para receber um transplante. Então, a gente depende da conscientização dessas pessoas’”, informou Ruiz.
O grupo também abraçou a causa e mil camisetas foram confeccionadas com a ajuda de 80 empresas. As roupas estão sendo doadas para amigos, familiares e pessoas que apoiam a doação. “Eu estou rodando com as camisetas para fazermos a campanha. Vamos tentar fazer um grande evento, reunir todo mundo. Todas essas camisetas que foram pagas pelos empresários não serão vendidas. O Eric não quer vender, ele quer doar. E todos os empresários concordaram em não ter propaganda de ninguém”, ressaltou Jefferson.
O grupo realiza, ainda, diversas outras ações para incentivar a doação. Uma página foi criada nas redes sociais, com o nome “Eu Compartilho a Vida”. Vídeos serão gravados com pessoas utilizando as camisetas, inclusive artistas, como a atriz sorocabana Alessandra Maestrini, que já confirmou a participação. Outdoors também estão sendo espalhados pela cidade e peças da campanha serão publicadas em veículos de comunicação. “Para ser doador de órgãos, é só avisar a família, nada mais que isso. De preferência, até a segunda geração: pai, mãe, irmãos, primos e tios, por exemplo, para que todos saibam que você tem esse desejo”, declarou Eric.
Na região de Sorocaba, 638 pessoas estão na fila
Atualmente, 20,8 mil pacientes aguardam por um ou mais órgãos em todo o Estado, segundo a Central de Transplantes de São Paulo. Já na região de Sorocaba, 638 pacientes estão na fila para receber um transplante, sendo 85,4% para doação de rins; 9% para córnea; 2,6% para fígado; 2,1% para doação de rins e pâncreas; 1% para coração; e 0,4% para pulmão.
Para ser doador, não é mais necessário incluir a informação no Registro Geral (RG) ou Carteira Nacional de Habilitação (CNH) -- basta comunicar a família sobre esse desejo. No caso dos falecidos, a autorização para doação deve ser dada por familiares com até o segundo grau de parentesco.
A Central de Transplantes do Estado de São Paulo destaca que doar órgãos e tecidos é fundamental para ajudar a salvar vidas. Além disso, reforça a orientação de que haja diálogo entre as famílias sobre o desejo de ser ou não doador de órgãos, pois isso facilita a tomada de decisão.
Com quem conversa, Eric -- o paciente sorocabano que tanto precisa de um coração -- deixa um recado de incentivo para conscientizar as pessoas sobre as doações, mas também a realizar exames periódicos de checagem do órgão. O empresário conta que, anualmente, realizava os testes de rotina para outras doenças. Porém, sem sintomas, não foi orientado a procurar um cardiologista de forma preventiva.
“Hoje eu falo para os meus amigos e para todas as pessoas que procurem um cardiologista. São exames simples e rapidinho você vê se tem algum problema ou não. Eu quero ajudar o próximo, quero que tudo isso tenha reflexo daqui um tempo, porque não é hoje que vai aparecer um coração. Quero que daqui a duas gerações isso tenha mudado”, finalizou Eric Moreno. (Vanessa Ferranti)