Empreendedorismo feminino: o que deixaremos para as nossas meninas?

É preciso ir além do assistencialismo. É preciso investir, capacitar, informar: esses três pilares são fundamentais para as mulheres que querem mudar de vida

Por Cruzeiro do Sul

Marina Elaine Pereira.

O tema empreendedorismo feminino vem sendo muito comentado atualmente. Eventos, palestras, reuniões, fóruns estão sendo cada vez mais realizados.
Esse movimento do protagonismo das mulheres no mundo dos negócios é uma tendência e veio para ficar.

Na realidade, as mulheres são empreendedoras há muito tempo, mas não tinham essa consciência.

Se relembrarmos das nossas avós e bisavós, verificamos que já era possível identificar traços desse tão falado empreendedorismo, mas que chamavam por outro nome.

E quando se fala em empreender, se fala em determinação, coragem e inovação, seja para abrir seu próprio negócio, seja para ascender na hierarquia de uma empresa.

De acordo com um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as brasileiras empreendem, principalmente, devido à necessidade de ter outra fonte de renda ou para adquirir a independência financeira.

E quando uma mulher obtém essa independência financeira, não é somente o dinheiro que está em foco, mas também a possibilidade de dar um basta na violência doméstica que é noticiada também todos os dias nos jornais.

É preciso ir além do assistencialismo. É preciso investir, capacitar, informar: esses três pilares são fundamentais para as mulheres que querem mudar de vida.

Muitas mulheres são chefes de família no Brasil. E mesmo sendo a maioria e estando a frente de 48% dos microempreendedores individuais (MEI) no País, se destacando em setores como beleza, moda e alimentação, elas ainda pagam taxas de juros mais altas do que os homens (34,6% ao ano, contra 31,1% ao ano), mesmo apresentando uma média de inadimplência menor (3,7% contra 4,2%) e uma desistência nos negócios menor que as dos homens.

A mulher que empreende busca ainda a flexibilização do seu negócio com a maternidade. E aquelas que não conseguem essa flexibilização realizam a famosa tripla jornada, conjugando os afazeres domésticos com a carreira e/ou seu empreendimento.

Uma pesquisa também revelou que embora as mulheres possuam nível superior 16% acima dos homens, somente 8,6% dos cargos de liderança nas grandes empresas são ocupados por mulheres.

É necessário e urgente mudar essa realidade. Sim, muito se evoluiu, mas não o suficiente. E isso deve ser ensinado desde cedo nas escolas para as meninas.

É importante que aquela menina que, muitas vezes vê a mãe ser agredida na casa, possa entender que essa realidade que ela vive não precisa ser repetida na sua vida adulta e que ela tem o poder de mudar isso para a vida dela.

Nas escolas do século passado se ensinava na grade curricular as mulheres a costurar, fazer comida, em suma, eram educadas para serem esposas. Por que não se pode incluir na grade curricular atual as mulheres empreenderem? Desenvolverem liderança?

As meninas de hoje em dia precisam entender que liderança e empoderamento feminino vai muito além de rebolar e ser sexy em um clipe musical, e que elas, sim, são capazes de desenvolver o que quiserem, com foco e determinação.

Marina Elaine Pereira é advogada pós-graduada em Direito Constitucional e Direito Tributário e especialista em Compliance. Também é membro da Comissão Estadual de Direito Médico e Saúde da OAB/SP e da Comissão de Direito Médico da Unaccam. Foi ouvidora geral de Sorocaba e secretária municipal de Saúde