Nas mãos de Deus
Pesquisa da CNT mostra que 67,5% das rodovias brasileiras têm sua extensão classificada como regular, ruim ou péssima
O Brasil escolheu, décadas atrás, o transporte por rodovias como o principal modal para a movimentação de cargas pelo país. Aos poucos, o sistema ferroviário foi sendo desativado e hoje responde por uma fatia mínima desse setor. O investimento em transporte hidroviário nunca teve grande destaque e hoje são poucos os trajetos que aproveitam esse caminho fornecido pela própria natureza.
Durante vários governos, o país investiu muito dinheiro na abertura e pavimentação de estradas que cortam o nosso território de norte a sul, mas nem sempre a qualidade dos serviços foi a contratada. A falta de fiscalização, aliada a famosos casos de corrupção e de desvio de verbas públicas, impediu que o Brasil tivesse uma malha viária que correspondesse à real necessidade do sistema. E este problema está longe de acabar.
Uma pesquisa, divulgada esta semana pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostra que 67,5% das rodovias brasileiras têm sua extensão classificada como regular, ruim ou péssima. Menos de um terço, cerca de 32,5%, foi classificada como ótima ou boa.
A pesquisa deste ano, feita em parceria com o Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte, avaliou 111.502 quilômetros de rodovias pavimentadas, o que corresponde a 67.659 quilômetros da malha federal e a 43.843 quilômetros dos principais trechos estaduais.
O levantamento levou em conta a classificação do estado geral das estradas e compreende três características da malha rodoviária: pavimento, sinalização e geometria da via. Foram estudadas variáveis como condições do pavimento, das placas de sinalização, do acostamento, de curvas e de pontes.
Em 2023, 56,8% do pavimento, 63,4% da sinalização e 66% da geometria dessas vias foram avaliados como regular, ruim e péssima, percentuais que também ficaram próximos aos registrados em 2022. Segundo nota divulgada pela entidade, “a realidade que o estudo expõe reforça o que a CNT vem defendendo há anos: a necessidade de continuar mantendo investimentos perenes e que viabilizem a reconstrução, a restauração e a manutenção das rodovias”.
Só que o atual governo não pensa bem assim. O Ministério dos Transportes foi o mais afetado pelo corte de verbas no último contingenciamento anunciado pelo governo Lula. O novo bloqueio do Orçamento, na ordem de R$ 4,952 bilhões, acertou em cheio as verbas da pasta, a mais prejudicada entre todos os ministérios. Foram R$ 394 milhões só nessa etapa. Desde o início de 2023, o Ministério dos Transportes já teve R$ 1,38 bilhão de seu orçamento bloqueado. Pelos dados do próprio Governo, esse foi o ministério que mais perdeu verbas, até agora.
O mais estranho é que alguns ministérios tiveram mais dinheiro liberado para gastar. O Ministério das Mulheres, por exemplo, recebeu R$ 2,7 milhões desbloqueados. A pasta de Igualdade Racial, teve mais R$ 2,5 milhões descontingenciados. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania ganhou R$ 3 milhões. Vale lembrar que essas duas últimas pastas estão envolvidas em investigações pelo uso descontrolado de verbas públicas. A ministra da Igualdade Social não explicou, até hoje, porque foi de avião, com uma comitiva de assessores-torcedores, a uma partida de futebol. O ministro dos Direitos Humanos tem fugido na hora de dar explicações sobre o pagamento de passagens aéreas e outras mordomias a pessoas ligadas à organização criminosa PCC em viagens à Brasília.
Enquanto isso não se vê nenhum tipo de prioridade no envio de verbas para o ministério que cuida da manutenção das estradas. Diante desse quadro, o que assistimos é o aumento dos problemas nas rodovias, principalmente nas administradas pelo Governo Federal. Isso tudo num período em que milhões de brasileiros vão se aventurar por estradas precárias para aproveitar as festas de final de ano e as férias escolares. Faltou, como sempre, planejamento e bom senso. Agora é torcer para que Deus proteja os viajantes.