Número de livrarias cresce 35% nos últimos cinco anos em Sorocaba

Cidade tem 134 estabelecimentos que atendem a leitores que não abrem mão do exemplar físico das obras

Por Vinicius Camargo

Ter o exemplar físico, poder fazer anotações e manusear a obra facilmente são fatores apontados pelos leitores

Apesar do constante fechamento de sebos e livrarias -- como o encerramento das atividades da Livraria Cultura que aconteceu ontem (27) em São Paulo (veja matéria abaixo)--, Sorocaba ainda conta com 134 estabelecimentos do tipo. O número, inclusive, cresceu quase 35% nos últimos cinco anos -- em 2018, havia 98. Os dados são da Secretaria da Fazenda (Sefaz).

Uma especialista e representantes do setor apontam que os negócios resistem, sobretudo, em razão da preferência -- ainda grande -- de muitos leitores pelos livros impressos. Para a professora de Letras da Universidade de Sorocaba (Uniso) Luciana Coutinho Pagliarini de Souza, o fim das atividades de várias livrarias e sebos está relacionado, principalmente, ao crescimento do comércio eletrônico. “Propiciou facilidade e agilidade na compra de livros on-line”, disse. Outro fator citado por ela é o advento de dispositivos de leitura eletrônica. A docente diz que essas ferramentas causaram mudança no comportamento do leitor, já que muitos aderiram aos recursos digitais, em vez dos livros físicos. “A popularização dos livros digitais facilitou não apenas o acesso, mas a possibilidade de baixá-los, desde que garantida uma conexão com a internet”, falou.

Apesar da digitalização, diversos estabelecimentos resistem e Luciana destaca que isso ocorre porque muitas pessoas não abrem mão da experiência proporcionada pelos livros tradicionais. Nesses casos, diz ela, há uma relação afetiva entre o leitor e o título. “Os leitores que se habituaram a sentir a porosidade e a resistência do papel do livro físico nas mãos, não vão abandonar essa prática”, apontou.

Atualmente, são quatro livrarias e sebos em shoppings, 51 na região central, 25 na zona leste, 18 na zona oeste, 22 na zona norte e 14 na zona sul. Em 2018, a zona oeste dispunha de oito unidades -- crescimento maior do que o dobro. Nas zona norte e leste, onde havia 11 e sete, respectivamente, as quantidades dobraram. A região oeste, que tinha oito há cinco anos, foi a única a “perder” dez estabelecimentos. Os números dos shoppings e do Centro se mantêm.

Por fim, a educadora comenta que os meios eletrônicos podem não ser tão capazes de proporcionar esse vínculo profundo. Por outro lado, possuem aspectos positivos. Um deles é a consonância com os hábitos das novas gerações.

Amor pelo papel

Leitores confirmam que a experiência proporcionada pela leitura de obras impressas é o que lhes faz manter o costume. Saudosista, o pastor Quened Barretos Souza, 41 anos, possui uma grande coleção de títulos -- ao ponto de ter perdido a conta de quantos são -- e compra novos todos os meses. “Tenho, pelo menos, umas sete estantes cheias”. Barretos só recorre aos e-books ou livros em PDF quando não encontra a versão física ou se o valor está elevado.

Pelas mesmas razões, a estagiária de pedagogia Graziele Reis de Oliveira Claro, 22 anos, também prefere as obras impressas. Dona de acervo com cerca de 60 obras, ela, inclusive, não compra ou lê e-books. “Poder anotar o que eu sinto, as coisas que me marcam, é o que me prende ao livro físico. Além daquela história que o livro contra, eu vou criando a minha própria”, falou.

Segmentos e vendas

Com acervo de nove mil exemplares, a livraria religiosa Paulus, na rua Cesário Mota, no Centro é um dos estabelecimentos que ainda existem em Sorocaba. As vendas cresceram 13,41% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2022. O vendedor Bruno Henrique Franchin, de 28 anos, atribui a alta ao fato de ser um estabelecimento segmentado. “O livro físico, sabendo conservá-lo, pode durar a vida toda, e se tornar uma grande relíquia, enquanto o virtual, até mesmo por algum problema no arquivo, um vírus, pode acabar se perdendo”, finalizou.

No sebo Livraria Econômica, na rua São Bento, também na região central, a queda na procura se intensificou desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020. Atualmente a retração no movimento chega a 30%. Mesmo assim, diversos clientes fiéis -- de crianças a idosos -- compram frequentemente no local, segundo a proprietária, Elaine Rosotte Navarro, 51 anos.

De acordo com a empresária, a maioria dos consumidores frequenta o sebo por conta dos valores mais baixos. É possível encontrar opções a partir de R$ 3, por exemplo. Inclusive, essa variedade também chama a atenção dos leitores. Conforme Elaine, as prateleiras armazenam desde lançamentos recentes, passando por best sellers até relíquias exclusivas. (Vinicius Camargo)