O agronegócio no meio da encruzilhada

Quanto menos se mexer no que está dando certo, maior será a certeza de que tudo continuará bem

Por Cruzeiro do Sul

Agronegócio

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Esse tipo de pergunta desafia, há séculos, a mente de toda a sociedade. Guardadas as devidas proporções, virou até mote de campanha publicitária de marca de bolacha. Nessa discussão infindável, ninguém nunca vai conseguir provar, de forma peremptória, sua tese.

O mesmo vale para o presidente Lula que num discurso, numa feira agropecuária na Bahia, voltou a atacar o agronegócio brasileiro. O presidente questionou o sucesso do setor dizendo que todo esse avanço só foi possível graças à injeção de muito dinheiro do Estado.

“Se não fosse o Estado colocar dinheiro, o agronegócio não estaria do tamanho que está”, disse Lula. Esse tipo de afirmativa, além de não ter como ser validada, ainda desmerece toda uma categoria de cidadãos que lutam, sol a sol, para produzir alimentos não só para a mesa dos brasileiros como também de boa parte da população mundial.

É difícil aceitar que um presidente da República tenha um raciocínio tão infantil sobre um dos mais importantes setores da nossa economia. Se a causa e o efeito fossem simples assim, outros segmentos, que também levaram ao longo das décadas caminhões de recursos públicos, estariam no mesmo patamar do agronegócio. Essa não é a realidade. A indústria automotiva, por exemplo, foi e continua sendo alimentada pelos cofres da União e não consegue, nem de perto, chegar ao desempenho dos produtores agrícolas.

O mais preocupante na postura de Lula é que ele está prestes a decidir o valor que será investido no próximo Plano Safra. E não vai ser pouco o volume de recursos em jogo. Pela estimativa de analistas, serão necessários cerca de R$ 400 bilhões para custeio e investimento da produção agropecuária.

A data para o anúncio do plano ainda não foi marcada, mas deve ocorrer ainda este mês. Além do volume de dinheiro, os agricultores estão preocupados com dois outros fatores: as exigências ambientais que podem ser incluídas para a viabilização dos empréstimos e a queda no preço da cotação dos grãos nos mercados internacionais.

Se o aporte financeiro não for suficiente, se as condições forem muitas resultando numa elevação do custo de produção e o preço de venda cair, estará formada uma tempestade perfeita que pode endividar e destruir parte do agronegócio brasileiro. Todos esses fatores devem ser levados em conta tecnicamente, sem paixões ideológicas e sem revanchismo. Se o agro quebrar, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro também sofrerá um forte baque.

Para se ter uma ideia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) só elevou as projeções para o crescimento do PIB do Brasil em 2023 e 2024, por conta dos bons resultados esperados para o agronegócio.

Os números registrados no primeiro trimestre deste ano surpreenderam a todos. A OCDE elevou a projeção de crescimento do PIB do País de 1,0% para 1,7% em 2023, enquanto a previsão para o próximo ano passou de 1,1% para 1,2%. Tudo isso pode ir por água abaixo se o agronegócio entrar em agonia.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, voz dissonante no Governo, garantiu que o Novo Plano Safra, ancorado na agricultura de baixo carbono, será robusto e terá recursos suficientes para garantir o apoio necessário à comercialização e para dar condições para que os produtores continuem sendo competitivos. Só que entre a teoria e a prática há uma longa distância e enquanto tudo não estiver no papel permanece a incerteza.

O montante de crédito rural desembolsado por instituições financeiras desde o início da safra 2022/23, a última do Governo Bolsonaro, atingiu R$ 318,7 bilhões, 18,6% a mais do que os R$ 268,6 bilhões liberados em igual período da safra 2021/22.

O valor supera também todo o crédito rural concedido na safra passada, de R$ 314,5 bilhões. O maior incremento foi verificado nos desembolsos para custeio da safra, que aumentaram 34,4% e chegaram a R$ 189 bilhões. Os dados constam da base de dados do Banco Central.

A gestão Bolsonaro entregou uma agricultura forte, respeitada no mundo todo e batendo constantes recordes de produção e de produtividade. O trabalho da ex-ministra Tereza Cristina foi impecável. Cabe ao atual governo dar sequência a esse ciclo de prosperidade que se instalou no campo. A esperança é que as decisões técnicas superem as discordâncias políticas. Quanto menos se mexer no que está dando certo, maior será a certeza de que tudo continuará bem.