O resgate da tradição

Depois que os Estados Unidos se tornaram um país independente, o Congresso recomendou um dia anual de ação de graças para toda a nação celebrar

Por Cruzeiro do Sul

"A Primeira Ação de Graças", pintada por Jean Leon Gerome Ferris, em 1915

Os Estados Unidos comemoram, nesta quinta-feira (23), um dos feriados mais importantes do calendário deles, o Dia de Ação de Graças.

A data começou a ser celebrada, segundo a tradição, em 1621, para agradecer a colheita farta daquele outono.

A história começa um ano antes, em 1620, quando um barco com mais de cem peregrinos cruzou o Oceano Atlântico em busca de vida nova no território descoberto por Colombo, em 1492.

Eles foram assentados numa área onde é hoje o Estado de Massachusetts.

Passados alguns meses, e diante das dificuldades e obstáculos encontrados no novo lar, a crença de muitos fiéis na missão que haviam recebido começou a se transformar num sério questionamento aos desejos de Deus.

Como eles chegaram muito perto do início do inverno, foi impossível plantar e produzir alimentos.

Sem comida, muitos adoeceram e quase metade da colônia acabou morrendo.

A situação só começou a melhorar com a chegada da primavera.

Os peregrinos fizeram amizade com os nativos da tribo iroquois.

Os índios ensinaram-nos a cultivar o milho, um alimento, na época, pouco conhecido pelos europeus.

Os locais mostraram também outros cultivos próprios para o solo americano, além de ensinar a caçar e a pescar.

Essa comunhão de esforços deu resultado.

No outono de 1621, os peregrinos colheram safras fartas de milho, de cevada, de feijão e de abóbora.

Para agradecer a ajuda dos índios, eles organizaram um grande jantar festivo unindo as duas culturas.

Os nativos levaram cervos para assar com os perus e outras caças oferecidas pelos colonos.

Nos anos que se seguiram, a comemoração repetiu-se e virou uma tradição nas colônias.

Depois que os Estados Unidos se tornaram um país independente, o Congresso recomendou um dia anual de ação de graças para toda a nação celebrar.

George Washington sugeriu 26 de novembro.

Mais tarde, em 1863, Abraham Lincoln pediu que todos os americanos reservassem a última quinta-feira de novembro como o Dia de Ação de Graças.

Embora alguns grupos ideológicos atuais condenem a comemoração por considerar que os colonos foram invasores e que mataram milhares de índios para estabelecer-se no país, a festa é uma das mais populares entre as famílias americanas.

As estradas e aeroportos ficam cheios e todo mundo quer estar na casa dos pais para jantar em comunhão.

O comércio dos Estados Unidos percebeu que o feriado de Ação de Graças poderia render um dinheiro extra.

Como são quatro dias de festa, muita gente tinha pouca coisa para fazer na sexta-feira.

As ruas ficavam cheias e era preciso oferecer algum tipo de atrativo.

Foi aí que surgiram, na década de 1980, as primeiras liquidações do Black Friday.

O movimento cresceu e virou febre mundial.

Os valores gastos nessa época aproximam-se muito da renda de outras datas importantes para o comércio como o Natal e o Dia das Mães.

No Brasil, o fenômeno é mais recente e ganhou impulso por volta de 2010.

De lá para cá, parece ser obrigação comprar qualquer coisa que seja nas ofertas oferecidas pelos milhares de fornecedores.

Conforme uma pesquisa realizada pela Associação Comercial de Sorocaba (Acso), um em cada três consumidores deve fazer algum tipo de compra durante a Black Friday.

As lojas físicas esperam aumentar as vendas em cerca de 10% na comparação com o mesmo período do ano passado.

A pesquisa apontou ainda que 28,9% dos entrevistados pretendem comprar roupas/acessórios/calçados; 14,8%, celular/informática; 13,5%, TV/eletroeletrônicos; 13,2%, produtos para casa e decoração; 12,1%, alimentos/ bebidas; 5,1%, viagens; e 4,9%, brinquedos.

Quanto aos valores, a expectativa é de que os consumidores gastem aproximadamente R$ 610, 5,5% a mais do que foi gasto no ano passado.

Os números dessa movimentação financeira são importantes para a economia do país.

Quanto mais o dinheiro circular, mais riquezas pode gerar.

O problema é que muita gente abusa e depois fica endividada na hora de pagar tantos boletos.

O que de fato se deveria valorizar nessa época do ano é o conceito inicial do Dia de Ação de Graças.

É hora de fazer um balanço da vida e agradecer tudo de bom que recebemos.

É hora de reunir a família, olhar nos olhos e expressar nosso amor.

Esse tipo de atitude, da tradição americana, é que deveríamos copiar, não a preocupação em fazer bons negócios num mar de ofertas nem sempre vantajosas.