O sofrimento dos inocentes

O mais triste dessa história é saber que, em grande parte das vezes, o vilão é alguém que conhece bem de perto a vítima e suas fragilidades

Por Cruzeiro do Sul

Enquanto no Brasil, ainda há gente, inclusive no atual governo, que ainda defende que pedofilia não é crime

As agressões sexuais contra crianças e mulheres são um dos grandes problemas que a sociedade atual tem de enfrentar.

Por mais que sejam feitas campanhas educativas e de alerta, que as leis e as punições se tornem mais rigorosas, um sem número de casos é relatado todos os dias para as autoridades policiais.

Os números, apesar de alarmantes, são muito menores que a realidade escondida em milhares de lares.

O mais triste dessa história é saber que, em grande parte das vezes, o vilão é alguém que conhece bem de perto a vítima e suas fragilidades.

“A cada três minutos, uma criança é vítima de agressão sexual.” Esse número não reflete a realidade do Brasil.

Nesse caso, estamos falando da França, um país europeu, considerado desenvolvido, e que discute esse tema com profundidade há anos.

Mesmo assim, a quantidade de casos de violência sexual contra crianças não para de crescer.

Desde setembro, o governo francês decidiu enfrentar com mais rigor essa realidade. Milhares de pessoas são bombardeadas todos os dias, nos principais meios de comunicação, com mensagens de alerta sobre o problema.

Mesmo numa sociedade mais instruída, o medo e o tabu de discutir-se alguns assuntos permanecem.

De 2020 para cá, uma série de campanhas publicitárias, livros, filmes e artigos de imprensa procuraram debater o tema exaustivamente.

Aos poucos, as pessoas foram aprendendo a abrir-se e a denunciar o sofrimento a que eram submetidas.

Mas isso tudo não foi suficiente, tanto que o governo de Emmanuel Macron está sendo pressionado por uma comissão independente que estuda o tema para avançar mais no combate a esse tipo de crime.

A comissão, batizada de “Ciivise”, foi criada pelo próprio presidente em 2021. Agora, seus membros recomendaram uma série de medidas legais para dificultar a vida dos que cometem crimes sexuais.

Entre as sugestões, está a de declarar imprescritíveis os casos de pedofilia, perguntar sistematicamente às crianças nas escolas ou no médico se sofrem qualquer tipo de violência e criar um protocolo para tratar as consequências.

Para o copresidente do Ciivise, o juiz Edouard Durand, “a violência sexual contra crianças é um grande problema de ordem pública e de saúde pública, que destrói e aniquila multidões de crianças”.

O que se assiste na França hoje é reflexo da complacência do governo e da sociedade com certos comportamentos, no mínimo, condenáveis, adotados durante o período após 1968 marcado pela liberação da moral, da sexualidade e da sociedade.

Essa liberalidade toda, aos poucos, foi ganhando dimensões incontroláveis e agora se tornou uma vergonhosa epidemia de ataques sexuais contra as crianças.

Em outubro de 2021, a Ciase, outra comissão independente francesa, calculou que cerca de 5,5 milhões de adultos sofreram violência sexual na infância.

Pelos dados coletados pela Ciivise, 160 mil crianças são vítimas todos os anos de agressão sexual, 97% dos agressores são homens (em 27% dos casos, os pais) e apenas 3% dos ataques terminam com a condenação do criminoso (1% em caso de incesto).

No Brasil, a situação não é muito diferente. Um boletim epidemiológico divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde aponta que 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram notificados em sete anos, de 2015 a 2021, no Brasil. São quase 80 casos por dia no período.

Segundo o documento oficial, 83.571 (41,2%) dos casos de violência foram contra crianças (0 a 9 anos) e 119.377 (58,8%) praticados contra adolescentes (10 a 19 anos).

Os dados brasileiros são tão assustadores como os da França. A diferença é que o país europeu já percebeu a necessidade urgente de conter o excesso de liberdade e de proteção aos agressores que foi dado nas décadas passadas. Eles já começaram a reagir.

Enquanto no Brasil, ainda há gente, inclusive no atual governo, que ainda defende que pedofilia não é crime.

Se essa realidade não mudar rapidamente e reconhecermos a necessidade de enfrentar o problema com seriedade, muitas outras vítimas inocentes ainda vão entrar para as estatísticas do Ministério da Saúde.

A situação é séria e a sociedade precisa exigir uma solução urgente.