Pedido de paz para o Irã
Apesar de todos esses problemas, escancarados para todo mundo ver, o atual governo do Brasil aceitou que o país fizesse parte dos Brics
A vida não está nada fácil para as mulheres no Irã e em outros países muçulmanos que seguem uma visão mais restrita dos ensinamentos contidos no Alcorão, o livro sagrado que reúne as revelações divinas ao profeta Maomé, ainda no século VII.
Desde a Revolução Islâmica, ocorrida em 1979, os líderes religiosos que comandam o país têm dificultado cada vez mais a vida das mulheres.
Nos últimos meses, uma série de protestos terminou com mortes, agressões e prisões. Um marco nessa luta pelos direitos das mulheres foi a morte da ativista Mahsa Amini, em 16 de setembro de 2022.
A jovem, de 22 anos, foi presa sob a acusação de não usar o hijab, véu que cobre os cabelos, de maneira adequada. Na prisão, por motivos desconhecidos, perdeu a vida.
O governo iraniano alegou que ela teve problemas de saúde. De lá para cá, dezenas de pessoas também foram vítimas da repressão e da polícia da moralidade.
Nos últimos dias, outro caso de violência contra a mulher está chamando a atenção no Irã. Ativistas de direitos humanos denunciaram que uma menina de 16 anos está hospitalizada em Teerã, a capital do país, depois de ter sido agredida por não usar véu.
A causa exata do ferimento na cabeça da jovem permanece um grande segredo. São muitas as histórias que circulam. O que se sabe, de fato, é que a polícia da moralidade está de volta às ruas.
E com uma missão ainda mais repressora, a ideia dos líderes religiosos é impor penas ainda mais duras para aqueles que ousarem desrespeitar a tradição de cobrir a cabeça.
O caso ocorreu no domingo, 1º de outubro. Os manifestantes contaram que a jovem Armita Garavand teria sido agredida porque não usava o hijab nas proximidades de uma estação do Metrô. Os denunciantes querem que o caso seja investigado por uma comissão independente ligada à ONU.
Segundo o diretor executivo do Centro para os Direitos Humanos no Irã, Hadi Ghaemi, "as meninas são sujeitas à violência nas ruas e depois as suas famílias são obrigadas a proteger o governo responsável por essa violência".
Para as mulheres muçulmanas praticantes, cobrir a cabeça é um sinal de piedade diante de Deus e modéstia diante de homens fora de suas famílias.
No Irã, o hijab também é um símbolo político, especialmente depois de se tornar obrigatório nos anos que se seguiram à Revolução Islâmica.
O Irã e o vizinho Afeganistão governado pelo Taleban são os únicos países onde o hijab continua obrigatório para as mulheres.
Enquanto as atrocidades são cometidas nas ruas do Irã, o mundo tenta usar as armas que tem para denunciar os crimes contra as mulheres.
A ativista iraniana Narges Mohammadi, de 51 anos, foi a grande ganhadora do Nobel da Paz de 2023 pela sua luta pelos direitos das mulheres no Irã.
Ela foi presa depois de ser uma das lideranças dos protestos contra o regime após a morte de Mahsa em 2022.
Segundo os organizadores, ela mereceu o prêmio pela sua luta pelos direitos das mulheres no Irã contra a "sistemática descriminação e opressão do regime iraniano".
O Comitê do Nobel destacou ainda que Mohammadi já foi presa 13 vezes no Irã e condenada a 31 anos de prisão por conta de seu ativismo. Mesmo da prisão, a ativista conseguiu continuar a sua luta pelos direitos das mulheres no país persa.
Narges Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o Prêmio Nobel da Paz e a segunda iraniana, depois que a ativista de direitos humanos Shirin Ebadi ganhou a honraria em 2003.
Esse reconhecimento mostra a importância de se discutir os diretos humanos em países sob forte regime totalitário.
É difícil aceitar, nos dias de hoje, que regras escritas na antiguidade não sofram as adaptações necessárias para permitir a convivência pacífica no atual momento da sociedade moderna.
O Irã é um dos piores exemplos que se tem, no planeta, de perseguição e desrespeito às liberdades individuais, principalmente com relação às mulheres.
Apesar de todos esses problemas, escancarados para todo mundo ver, o atual governo do Brasil aceitou que o país fizesse parte dos Brics.
Seremos agora aliados de uma nação que dia e noite mata pessoas pelo simples fato de expor parte de sua cabeça. O que se dirá daqueles que expõe suas ideias.