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Foi a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal, onde também estão integrantes do alto escalão de facções

Por Cruzeiro do Sul

Fuga em Mossoró

Desde os tempos mais antigos, as autoridades policiais se utilizam de propaganda para tentar capturar bandidos foragidos da Justiça. Quem já assistiu a um bom filme de Velho Oeste vai lembrar daquela dezena de cartazes espalhados pelas cidades oferecendo recompensas em dinheiro para quem trouxesse “Vivo ou Morto” determinado meliante. Os desenhos, depois substituídos por fotos, retratavam homens perigosos, com longa ficha criminal e grande poder de colocar em risco a comunidade. Quanto mais perigoso, maior o prêmio por sua captura.

Claro que esse modelo de caça violenta aos contraventores deixou de existir na sociedade moderna. Agora são usados sistemas mais sofisticados, câmeras de reconhecimento facial e outras tantas tecnologias que permitem a recondução dos criminosos às penitenciárias. Uma destas modernidades é o Sistema de Difusão Laranja da Interpol, a Polícia Internacional. Quando uma pessoa é incluída nessa listagem passa a ter seu nome e imagem divulgados no mundo todo. Um imenso contingente de agentes se encarrega de vigiar todos os cantos do mundo na tentativa de prender o procurado.

Foi nesse Sistema a que foram parar os nomes dos brasileiros Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça. Os dois fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró, uma unidade de segurança máxima no interior do Rio Grande do Norte. Foi a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal, onde também estão integrantes do alto escalão de facções como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).

A fuga é um verdadeiro vexame para a cúpula do atual Governo Federal e para o recém-empossado ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Ele substituiu, no início do mês, Flávio Dino, considerado em várias pesquisas de opinião pública, o mais ineficiente dos atuais ministros.

No Congresso, a repercussão da fuga, cujos detalhes ainda não foram divulgados, gerou várias críticas ao Governo. Muitos parlamentares já falam na convocação de Lewandowski para explicar as falhas ocorridas e o andamento da investigação. O fato de uma integrante do PCC ter sido recebida com tapete vermelho, ano passado, na sede do Ministério da Justiça só piora a situação.

Na tentativa de provar que tem tudo sob controle, o ministro determinou o afastamento imediato da atual direção da Penitenciária Federal em Mossoró. A medida foi anunciada horas depois da divulgação da fuga dos dois presos.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou ainda que os protocolos de segurança das cinco penitenciárias federais sejam revisados. Em nota, o MJSP afirmou ainda que acionou a Polícia Federal para investigar a fuga dos prisioneiros e apurar informações sobre eventuais responsáveis. Ainda não se sabe se pessoas de dentro da penitenciária ajudaram os criminosos a escapar.

Esse caso traz à mente, uma outra fuga famosa em presídios brasileiros. Em 31 de dezembro de 1985, o traficante de drogas José Carlos do Reis Encina, o Escadinha, foi resgatado de helicóptero do extinto presídio Cândido Mendes na Ilha Grande, Rio de Janeiro, considerado na época um dos mais seguros do País. A fuga surpreendeu pela audácia. No dia da fuga, Escadinha escapou do presídio e foi para a praia Coroa Grande. Lá esperou que um comparsa o resgatasse. Por ironia do destino, meses depois, ele foi recapturado e voltou ao presídio da mesma forma que saiu: de helicóptero.

Quase quarenta anos depois, uma nova fuga mexe com o País. Os dois presos que escaparam têm ligação com o Comando Vermelho, uma das facções dominantes no Acre. Aliás, o crime organizado tem se espalhado pelo País de forma preocupante. Uma situação como essa pode incentivar novas fugas e ataques a presídios. A resposta do Governo precisa ser rápida e enérgica. Resta saber se agora, em pleno século 21, estaremos melhor preparados para devolver esses inimigos da sociedade de volta ao lugar que a Justiça lhes destinou, a Segurança Máxima.