Rebeldia fora de hora

A grande preocupação das lideranças do PT é que falte dinheiro para obras no ano que vem

Por Cruzeiro do Sul

Partido dos Trabalhadores tenta evitar crise partidária

Os brasileiros assistiram a dois discursos bastante antagônicos nesse final de semana.

De um lado, o presidente da Argentina, Javier Milei, em seu pronunciamento de posse, advertindo a população de que o país não tem dinheiro, de que a situação econômica está difícil e de que todos devem esperar dois longos anos de dificuldades.

Do outro lado, o encontro nacional do Partido dos Trabalhadores, no qual se pregou a gastança e o aumento do déficit público como forma de manter a agremiação ligada a Lula no poder.

Os discursos das principais lideranças mostraram que eles estão mais interessados no benefício próprio do que na melhoria das condições financeiras do Brasil.

O ministro Fernando Haddad até tentou defender uma posição mais prudente e cautelosa, mas foi bombardeado por aqueles interessados nas verbas públicas e em manter seus amigos bem empregados.

Na Argentina, Javier Milei, um economista experiente, anunciou um plano para impulsionar a recuperação do país por meio de um duro ajuste fiscal que envolverá sacrifícios, mas que acabará rendendo, no futuro, frutos.

A intenção dele é livrar a Argentina da crise em que está mergulhada há anos.

Na avaliação de Milei, “não há dinheiro, não há alternativa ao ajuste, não há alternativa ao choque”.

E ele foi bastante claro e transparente: “No curto prazo, a situação vai piorar, mas, depois, veremos os frutos dos nossos esforços”.

Classificada como a terceira economia da América Latina, Milei toma possa num momento que a Argentina registra uma inflação de mais de 140% ao ano e uma taxa de pobreza superior a 40%.

Para enfrentar essa crise, o novo presidente quer implementar medidas drásticas em cortes de gastos públicos, redução do Estado e liberalização em um país que vive, há anos, de subsídios e déficit fiscal.

Uma das primeiras medidas de Milei, assim que tomou posse, foi reduzir o número de ministérios, uma promessa de campanha expressada em vários vídeos que ganharam destaque nas redes sociais.

A Argentina apostou, nesse momento, na austeridade e no corte de gastos para superar seus problemas e desigualdades.

Já no Brasil, o partido do atual presidente prefere o desperdício, o aumento da máquina pública e o troca-troca de favores, nem sempre republicanos.

O deputado Lindbergh Farias, integrante da ala do PT que critica em público a meta de zerar o rombo das contas públicas, criticou a atual política defendida por Fernando Haddad.

Para o ministro, não é verdade que o déficit fiscal possa gerar crescimento econômico.

Farias discorda e acredita que “déficits aparecem com mais frequência em momentos de desaceleração econômica. Agora, é inquestionável que estímulos fiscais em situações de baixo crescimento, como devemos enfrentar em 2024, têm sim um papel enorme no crescimento do PIB”.

Na verdade, a grande preocupação das lideranças do PT é que falte dinheiro para obras no ano que vem e que isso possa prejudicar o desempenho do partido e de seus aliados nas eleições municipais.

Quanto mais dinheiro estiver disponível, mais fácil será abocanhar uma boa parcela das prefeituras em disputa.

Durante o encontro do PT, o líder do governo na Câmara, José Guimarães, expôs claramente a ideia do partido.

Ele disse que deve haver déficit orçamentário no ano que vem se for preciso.

O deputado avaliou que a busca pela meta de zerar o rombo das contas públicas pode fazer com que a sigla perca as eleições municipais.

Ele defendeu ainda que é necessário “mobilizar bem” a militância para que a legenda saia vitoriosa na disputa pelas prefeituras em 2024.

Eles só esquecem que se o desemprego chegar, a inflação voltar e os juros começarem a subir, não vai ter obra suficiente para conter a insatisfação da população.

Essa rebeldia das lideranças do PT vem exatamente numa semana que o governo precisa dos votos do Centrão para aprovar pautas importantes no Congresso e manter vetos de Lula.

Com um discurso assim, o preço dos apoios só aumenta e o rombo fiscal vai ficar cada vez mais distante do zero. A semana promete muitas emoções e surpresas.