Uma arapuca chamada Brics
No afã dessa ampliação do Brics, Lula está levando o país para uma armadilha
O atual governo brasileiro tem apostado várias de suas fichas numa maior projeção internacional. O presidente Lula tem viajado como nunca em busca dessa visibilidade. O problema é que a cada viagem surge uma nova série de gafes e de saias justas para o País. A falta de um rumo para essa política externa tem causado vergonha a milhões de brasileiros. Casos como o ocorrido em julho, em Cabo Verde, vão entrar para os anais da história como uma das maiores bobagens ditas por um mandatário nacional.
Para quem não se recorda da história, foi lá que Lula, durante encontro com o presidente cabo-verdiano José Maria Neves, agradeceu a colaboração dos africanos durante o período de escravidão no Brasil. “Temos profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão em nosso País”, disse Lula para desespero de seus assessores.
Agora o presidente está prestes a, mais uma vez, complicar a imagem do Brasil no cenário internacional. Desde o início de seu terceiro mandato, Lula sonha com a ampliação e o fortalecimento do Brics. A ideia é fazer com que o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ganhe mais relevância na tomada de decisões globais. E até possa ter uma moeda conjunta que possa fazer frente ao dólar nas negociações econômicas.
No afã dessa ampliação do Brics, Lula está levando o País para uma armadilha. Várias nações onde a democracia e os direitos humanos não são muito respeitados correram para solicitar adesão ao bloco. As candidaturas estão sendo avaliadas, mas o risco é grande da nossa imagem sair bastante arranhada perante os países do Ocidente.
Para a expansão do Brics, 23 candidaturas se apresentaram oficialmente. Nem todos serão aceitos num primeiro momento. A expectativa é que países como Argentina, Indonésia, Arábia Saudita e Emirados Árabes sejam os primeiros a ingressar no bloco. Só que chineses e russos pensam um pouco além e lutam para forçar a entrada do Irã, do Egito e da Venezuela, nações que enfrentam séria desconfiança internacional. Também estão na lista de candidatos ditaduras consolidadas como a do Vietnã, Bahrein, Kuwait, Belarus, Cuba e Etiópia. Pequim está mesmo é interessada em dar mais peso político e econômico ao bloco e usou toda a sua influência para impulsionar pedidos de adesão, uma forma de criar um polo antagônico aos Estados Unidos e ao G7.
Esse cenário acendeu um sinal de alerta dentro do próprio governo brasileiro. Uma parte significativa das pessoas que assessoram Lula teme que o Brics acabe sendo um bloco com predominância de ditaduras e que as democracias se tornem minoria na hora de tomar decisões globais. O desconforto é maior dentro da ala diplomática. A adesão de nações que não levam em conta os direitos humanos pode afastar o Brasil de temas importantes, muito caros à esquerda, como a igualdade de gênero e os direitos das minorias.
Além disso, a entrada de países mais alinhados com China, Rússia e Índia, reduziria a influência do Brasil no bloco. Nosso único novo aliado, a Argentina, passa por um tenso período eleitoral. O resultado do pleito é uma incógnita. Se a vitória ficar com o economista Javier Milei, a chance de uma ruptura com o Brics é enorme. O político já se posicionou, várias vezes, contra qualquer tipo de negociação com a China.
A entrada do Irã no bloco também seria uma grande afronta aos Estados Unidos, uma briga indigesta para o governo brasileiro. Isso sem se falar da situação da Ucrânia. Ao desfilar ao lado de Putin, Lula acaba manchado com o sangue das batalhas cada vez mais violentas entre os dois países.
Ao pregar a ampliação do Brics, o governo brasileiro esqueceu de mapear qual seria a composição ideal do bloco e as regras de entrada. Ao escancarar açodadamente a porta, permitiu que países considerados párias mundiais tivessem a chance de buscar um lugar ao sol para disseminar suas ideologias pouco toleradas no mundo civilizado. Vai ser duro para Lula contrariar, agora, parceiros de peso como Rússia e China. A armadilha foi montada e o Brasil está prestes a ser capturado pelas mais severas ditaduras do planeta.