Doação de órgão precisa de mais incentivo e menos burocracia
Entre as pessoas na lista de espera, há crianças aguardando por transplantes de córnea, rim e coração.
Em todo o Brasil, mais de 42 mil pessoas estão na lista de espera para transplante, segundo o Ministério da Saúde. No recorte por faixa etária, é possível observar que 1.477 pacientes têm idade até 17 anos. Entre essas crianças e adolescentes que aguardam na fila, 62% estão à espera de córneas. Outros 24% aguardam a doação de rins, enquanto 17% precisam de um novo coração.
A doação de coração pode ser indicada para crianças por profissionais de cardiologia preventiva, com o propósito de minimizar problemas mais sérios no futuro, ou por pediatras, diante do diagnóstico de anormalidade no funcionamento do órgão.
O tempo de espera para a realização do transplante em crianças é um dos desafios da pediatria hospitalar. Há casos em que a doação de órgãos é o único caminho para viver. Mas o processo encontra dificuldades, que vão desde a adesão das famílias à burocracia.
Como funciona a doação de órgãos no Brasil
No Brasil, a maioria dos transplantes é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que garante que pessoas de todas as idades e classes sociais tenham direito e oportunidade ao procedimento. Dados do Ministério da Saúde apontam que 87% das doações de órgãos foram feitas com recursos públicos.
O procedimento nada mais é do que uma cirurgia que retira um órgão ou tecido de uma pessoa doente e coloca no local outro saudável de um doador, que pode estar vivo ou morto. Conforme explica o Ministério da Saúde, no caso de doadores vivos, o transplante só pode acontecer com órgãos específicos como um dos rins, parte do fígado e do pâncreas, pois mesmo sendo retirados ainda há chances de vida saudável ao doador após o procedimento.
A doação de órgãos só pode ser feita por pessoas em boas condições de saúde e que sejam familiares do receptor. Para indivíduos sem nenhum parentesco, o procedimento só pode ser realizado mediante uma autorização judicial.
Quando o doador é alguém que já faleceu, é necessária a autorização de um familiar ou responsável legal. Nesse caso, de acordo com o Ministério da Saúde, o órgão doado vai para o paciente que necessita e que está aguardando na lista de espera, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Para que a doação ocorra, os médicos precisam avaliar uma série de detalhes como tipo sanguíneo, peso e estatura. Os órgãos doados por uma pessoa falecida com menos de 18 anos são sempre oferecidos primeiro para uma criança.
Conscientização e incentivo são a saída para reverter a situação
A doação de órgãos ainda é um tabu no Brasil. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em 2023, 44% das famílias brasileiras se recusaram a doar órgãos após a morte de um parente.
A ABTO reforça a necessidade de conscientizar a população por meio de ações e medidas que incentivem a doação de órgãos no país. Há campanhas publicitárias que levantam a bandeira para o tema. O assunto também é abordado por influenciadores digitais. O criador de conteúdo Felipe Theodoro fez vídeos recentes incentivando os mais de 4 milhões de seguidores a se tornarem doadores de órgãos.
Iniciativas públicas também têm sido realizadas. O Conselho Nacional de Justiça e o Colégio Notarial do Brasil lançaram a campanha “Um Só Coração: seja vida na vida de alguém.” A ação se une ao sistema Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO) para fornecer uma autorização eletrônica gratuita pelo site www.aedo.org.br, uma forma de reduzir a burocracia do processo.