Dois são mortos na fronteira Brasil-Venezuela
O primeiro dia de fechamento da fronteira entre Brasil e Venezuela terminou com um saldo de 2 mortos e 15 feridos, dos quais 5 foram transportados para Boa Vista. O líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, criticou o episódio. Neste sábado (23), a oposição deve tentar entregar toneladas de ajuda humanitária na fronteira brasileira e colombiana.
Apesar da violência do lado venezuelano, militares brasileiros avaliam que a movimentação na fronteira é normal e esperam que a situação se acalme nas próximas semanas. Há um temor, porém, de que o fechamento prejudique a estabilização do fluxo migratório obtida nos últimos meses com a Operação Acolhida. Sem poder entrar pela passagem oficial, os refugiados tendem a buscar trilhas na fronteira seca, como ocorreu ontem em Pacaraima.
[irp posts="78116" ]
“Com a fronteira fechada, deve aumentar o número de venezuelanos que entram no Brasil sem passar pela triagem na fronteira”, avalia o tenente-coronel Alyson Mendonça. “Com isso, a demanda deve aumentar muito também e essas pessoas não necessariamente passarão de cara pela Operação Acolhida.”
Nesta sexta (22), a fronteira entre Brasil e Venezuela amanheceu fechada. Um posto de cavalaria da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), em Santa Elena de Uairén, foi bloqueado e impediu que moradores da cidade atravessassem para Pacaraima.
Na comunidade indígena de Gran Sabana, nos arredores de Santa Elena, soldados venezuelanos abriram fogo contra civis que tentavam manter uma trilha aberta na fronteira seca -- duas pessoas morreram.
A primeira vítima foi identificada como Zorayda Rodríguez, de 42 anos. O segundo morto é Rolando Garcia, que seria marido de Zorayda. Após o ataque, houve confrontos entre policiais e moradores da cidade, que teriam sido reprimidos com bombas de efeito moral.
O líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, condenou o ataque. “É constitucional matar indígenas?”, questionou. Por meio de um porta-voz, o Ministério de Comunicações da Venezuela afirmou que não poderia comentar o caso. Horas depois, no entanto, Maduro, foi ao Twitter apoiar a Força Armada Nacional Bolivariana. “Máxima moral, máxima coesão e máxima ação. Venceremos!”, escreveu.
Em Boa Vista, um avião da Força Aérea Brasileira chegou com ajuda humanitária para ser entregue hoje na fronteira da Venezuela. A carga foi armazenada em um hangar na Base Aérea de Boa Vista à espera de transporte para cruzar a fronteira.
Em Brasília, o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, confirmou que a operação de entrega sairá neste sábado (23) de Roraima e não há previsão de término da ação. Segundo ele, o governo brasileiro tentará entregar 200 toneladas de alimentos.
Mais cedo, foi realizada uma reunião do gabinete de crise do governo para tratar da Venezuela. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), participou do encontro por vídeo conferência. No Palácio do Planalto, estiveram reunidos o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, além de representantes dos ministérios da Defesa, Relações Exteriores, Infraestrutura, Minas e Energias.
Mísseis
Questionado sobre a presença de mísseis venezuelanos próximos à fronteira do Brasil, Barros disse que o governo não confirma a informação -- publicada mais cedo pelo site DefesaNet. Ele também não quis comentar sobre eventual reação militar a um ataque. “Não conjecturamos poder de combate.”
Na sexta (22), houve shows de música dos dois lados da fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na Colômbia, Juan Guaidó atravessou a fronteira apareceu no palco ao final do Live Aid Venezuela. (Luiz Raatz, Camila Turtelli e Mariana Haubert - Estadão Conteúdo)