Em São Paulo, cidades podem adotar flexibilização apesar da alta de casos
Das 191 cidades paulistas que registraram alta de novos casos de Covid-19 na última semana, 165 delas (86%) serão autorizadas pelo governo do Estado a reabrir o comércio a partir de segunda-feira, dia 1º. Mesmo com o aumento de novas infecções, 124 desses municípios foram incluídos na fase 2 do plano estadual de reabertura, na qual lojas, shoppings centers e imobiliárias, por exemplo, podem funcionar. Outras 41 dessas cidades estarão na fase 3, em que até bares, restaurantes e salões de beleza podem ser reabertos.
Os números são de levantamento feito pelo Estadão com base em dados da Secretaria da Saúde e da plataforma colaborativa Brasil.IO, que reúne estatísticas por município e por data desde o início da pandemia.
A reportagem comparou o total de novos casos registrados em cada município nos sete dias prévios ao anúncio do plano de reabertura (20 a 26 de maio) com as estatísticas da semana anterior (13 a 19 de maio).
A flexibilização da quarentena mesmo em cidades com tendência de alta da pandemia contraria afirmação do governo do Estado de que a reabertura seria iniciada em localidades com queda consistente de casos.
Entre os municípios que foram incluídos nas fases 2 e 3 da reabertura mesmo registrando alta de infecções estão, além da capital, outras cidades de porte grande e com alta significativa no número de novas infecções.
São José dos Campos é um desses exemplos. Na última semana, registrou 214 novos casos confirmados de Covid, número 86% maior do que os 115 notificados na semana anterior. Mesmo assim, está na fase 2 de abertura.
Jundiaí tem situação semelhante: o total de novas infecções saltou 60% em uma semana (passou de 176 para 283), mas também poderá reabrir comércios na segunda-feira.
Em Piracicaba, também incluída na fase 2, a alta foi ainda maior no período analisado: 137%. Os novos casos passaram de 81 para 192. Taubaté, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Hortolândia, Limeira, Valinhos e Bragança Paulista são outras cidades na mesma situação.
Na cidade de São Paulo, a única da região metropolitana a ser poupada da fase 1 (na qual as restrições mais rígidas continuam) e ser incluída na fase 2, o número de novos casos cresceu 10%, passando de 8.958 para 9.914 no período analisado.
Araraquara e Jaú fazem parte do grupo de municípios que, apesar da alta de novos casos, foram incluídos na fase 3, ainda mais permissiva. Em ambos, o total de novos registros cresceu 43% e 48%, respectivamente.
Múltiplos critérios
Questionada, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a reportagem “ignora os critérios definidos pelo Estado para classificação das fases” pois o plano de reabertura é multifatorial, observando “não apenas número de casos e óbitos, mas também balanços de internações e ocupação de leitos de UTI, com análises diárias.”
Os próprios dados da secretaria, no entanto, mostram que a taxa de ocupação das UTIs e o número de pessoas internadas vem aumentando nos últimos dias. Ontem, o volume de leitos de terapia intensiva ocupados no Estado bateu recorde, chegando a 77,4%. Já o número de pacientes hospitalizados com Covid-19 na rede estadual saltou de 10,1 mil no dia 15 de maio para 12,5 mil ontem.
Região metropolitana será dividida por áreas
Mesmo com ocupação de 88,9% dos leitos de UTI, cidades da Grande São Paulo serão autorizadas a conduzir projetos de abertura econômica, segundo decisão do governador João Doria (PSDB). A região metropolitana foi dividida em seis áreas: a capital e mais cinco, e cada uma apresentará semana que vem estudos sobre possível flexibilização da quarentena. Apesar de a capital ter recebido aval do Estado para reabrir shoppings e lojas a partir de junho, os 38 municípios da Grande São Paulo haviam sido colocados na zona vermelha, de restrição máxima. A mudança veio após pressão dos prefeitos dessas cidades.
No plano original de Doria de retomada gradual, apresentado esta semana, o Estado foi dividido em 18 regiões e há cinco fases de restrição. A 1ª, vermelha, libera só serviços essenciais, como os de saúde, além da indústria e construção civil. Já a 2ª fase, laranja, prevê reabrir, com restrições, shoppings, lojas, concessionárias e escritórios em junho.
Conforme o governo, a mudança de fase depende da análise pelo Estado de uma série de critérios, como a evolução de casos e óbitos por Covid-19 e a disponibilidade local de leitos - a metodologia só foi detalhada ontem. O fato de a capital ser a única das 39 cidades da Grande São Paulo na zona laranja motivou críticas de prefeitos e empresários.
Um dos desafios, para críticos do plano original, seria lidar com a alta circulação de trabalhadores da capital vindos da região metropolitana, e com o controle de divisas de São Paulo e cidades vizinhas. Já cientistas veem risco de qualquer flexibilização na Grande São Paulo, pois o Estado ainda não passou pelo pico da pandemia. (Estadão Conteúdo)