Governo prepara MP de R$ 20 bi para comprar e centralizar entrega de vacinas
O governo Jair Bolsonaro vai editar uma Medida Provisória para abrir crédito de R$ 20 bilhões para compra de vacinas contra a Covid-19. Com a medida, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deve reforçar o discurso de que a sua pasta vai comprar e distribuir todas as vacinas disponíveis do País, incluindo a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, órgão ligado ao governo paulista de João Doria (PSDB). A verba deve ser usada para compra de vacina e seus insumos, além da logística e da comunicação da campanha de imunização.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que esteve com Pazuello nesta sexta-feira, afirmou que as vacinas devem ser "requisitadas" pelo ministério. "Nenhum Estado vai fazer politicagem e escolher quem vai viver ou morrer de Covid-19", afirmou Caiado, no Twitter. Integrantes do governo federal que acompanham a discussão afirmam que a MP deve se limitar a abrir crédito para a compra de vacinas. Dizem ainda que o texto está em construção e veem exagero na fala de Caiado. Também no Twitter, Doria disse que é uma "insanidade" uma MP que prevê confisco. Também chamou a ideia de ‘ataque ao federalismo".
Em nota na noite desta sexta, o Ministério da Saúde afirmou que "em nenhum momento, o Ministério da Saúde se manifestou sobre confisco ou requerimento de vacinas adquiridas pelos Estados". Também exaltou os 47 anos do Programa Nacional de Imunização (PNI), coordenado pela pasta, cujas ações "têm o apoio das secretarias estaduais e municipais de Saúde", para que "o trabalho possa ser realizado com eficiência".
Em seu discurso, Pazuello não tratou de requisição de vacinas, mas ele teve conversas reservadas de pelo menos uma hora com Caiado durante o evento. O próprio diretor do Butantã, Dimas Covas, disse que se o ministério formalizar o interesse na Coronavac, as doses, então, serão todas ofertadas ao PNI.
Pazuello disse, na cerimônia, ter determinado a busca por recursos para vacinar "todo o nosso povo". O general voltou a chamar para o ministério a responsabilidade de organizar a imunização nacional. "Nenhum Estado da federação será tratado de forma diferente. Nenhum brasileiro terá vantagem sobre outros brasileiros", disse.
Vacinação
A declaração de Pazuello ocorre no momento em que o governo Bolsonaro é pressionado para antecipar o calendário de vacinação contra a Covid-19, previsto para começar em março - outros países já iniciam suas campanhas este mês. Nos últimos dias, Pazuello tem dito que seria possível começar a vacinação até em dezembro ou janeiro, caso alguma fabricante de vacinas consiga o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O governo Bolsonaro ainda busca reagir a Doria, que promete começar a imunizar a população paulista em 25 de janeiro, mesmo sem ter apresentado dados finais de eficácia da Coronavac. Em Goiânia, Pazuello afirmou que a "ansiedade" para a vacinação "faz parte" e mandou recados: "É criada pela própria situação da Covid-19, dos riscos, da gravidade da contaminação. É causada pelo açodamento de algumas autoridades do País".
Pazuello afirmou que as "previsões" sobre a vacinação estão "diretamente" ligadas ao registro dos imunizantes na Anvisa. Para isso, é preciso ter todos os estudos finalizados e a agência tem prazo de 60 dias para liberar o produto ou não.
Outro caminho, mais célere, é pedir o uso emergencial, o que pode ser feito com testes finais em andamento, mas a aplicação só poderia ocorrer em grupos restritos, como de profissionais de saúde ou idosos. "Não é isso que nós consideramos como solução", disse. O ministro disse ainda que vai cobrar "pessoalmente" rapidez da Anvisa.
Recursos
Em audiência na Comissão do Congresso que acompanha as medidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que não faltarão recursos para comprar vacinas. "Mais que uma aspiração, é um direito do brasileiro. Se existe essa vacina, temos de buscar onde tiver. Não vai ser por falta de recursos que vamos deixar de cumprir essa obrigação", enfatizou, ressaltando que participou nesta sexta-feira de duas reuniões com o presidente Jair Bolsonaro - de duas horas cada - sobre vacinação. (Estadão Conteúdo)