País quer autossuficiência na produção de vacinas

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Brasil hoje importa o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para imunizantes contra Covid-19. Crédito da foto: Mauro Pimentel / AFP (22/1/2021)

Brasil hoje importa o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para imunizantes contra Covid-19. Crédito da foto: Mauro Pimentel / AFP (22/1/2021)

O Brasil almeja alcançar a autossuficiência na produção de vacinas contra a Covid-19 até o início de 2022. A meta é factível, desde que não haja atrasos na transferência de tecnologia para o Instituto Butantan, em São Paulo, e para a Fiocruz, no Rio. Além disso, duas vacinas de desenvolvimento e produção inteiramente nacionais estão em fase pré-teste. Foram prometidas já para o fim de 2021.

O grande desafio, segundo especialistas, será conseguir manter o desenvolvimento tecnológico necessário à adaptação dos imunizantes a eventuais novas variantes do Sars-CoV-2. Na terça-feira (23), em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente Jair Bolsonaro prometeu que até o fim de 2021 o País será autossuficiente na produção da CoronaVac e da vacina de Oxford. Ambas já são feitas no Brasil. Mas sua base é Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado. Ter a capacidade prometida por Bolsonaro significa que o Brasil já terá concluído os processos de transferência de tecnologia. Será ainda capaz de produzir todos os ingredientes em território nacional. Também terá capacidade de fabricar imunizantes suficientes para toda a população brasileira.

A Fiocruz ainda discute com a Universidade de Oxford/Astrazeneca a assinatura do contrato de transferência de tecnologia. Garante, porém, que a informação já é compartilhada. A instituição conclui as obras de novas instalações industriais para produzir os IFAs. O Instituto Butantan já assinou o contrato com a chinesa Sinovac. Mas também depende da conclusão de um laboratório de nível de segurança 3. É necessário à produção de IFA.

“É um processo muito complexo, mas estamos mantendo o cronograma”, garantiu o diretor da fábrica de Biomanguinhos, da Fiocruz, Mauricio Zuma. “Estamos num trabalho muito intenso, vamos concluir as adequações (da planta) até abril e vamos concluir também a transferência de tecnologia; no segundo semestre estaremos distribuindo a vacina.”

O gerente de Parcerias Estratégicas e Novos Negócios do Instituto Butantan, Tiago Rocca, também está otimista. “A expectativa é de concluirmos a obra até o fim de setembro para, a partir daí, começarmos a qualificar os equipamentos e operacionalizar a fábrica para já estarmos produzindo em 2022”, disse. “O tempo que estamos seguindo agora é o da obra; até o momento não tivemos nenhum atraso.”

Outros especialistas ouvidos pelo Estadão não se mostraram tão otimistas. “Obra é complicado”, declarou o médico sanitarista Gonzalo Vecina, um dos fundadores da Anvisa. “Não se trata de julgar a capacidade técnica dos profissionais do Butantan e da Fiocruz, eles são extremamente capacitados e competentes”, afirmou o virologista Flávio Guimarães, pesquisador do Centro Tecnológico de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “O problema é que não basta ter capacidade técnica, é preciso um grande investimento estrutural.”

IFA

Das sete vacinas fornecidas pelo Instituto Butantan para o PNI, somente a da gripe é fabricada totalmente no Brasil. Das dez vacinas produzidas pela Fiocruz, apenas quatro não dependem de IFA importado. Quase 95% dos IFAs dos produtos farmacêuticos feitos no Brasil chegam ao País por meio de importação.

Atualmente, é mais barato comprar IFA da China e da Índia do que produzi-los no Brasil. “Existe uma possibilidade concreta de até o fim do ano estarmos produzindo vacina e IFA”, disse o Coordenador de Prospecção da Fiocruz, Carlos Gadelha. “O problema é que surgirão variantes do vírus, então esse trabalho terá de ser permanente. Temos de ter capacidade de inovação para acompanharmos as novas variantes.”

Ontem (27) estava prevista a chegada, para a Fiocruz, de mais duas remessas de IFA suficientes para produzir 12 milhões de doses de vacina Oxford/AstraZeneca, importados da China. Na quinta (25), a Fiocruz já havia recebido insumos para fabricar outros 6 milhões de doses e, na próxima semana, está prevista a chegada de uma nova carga suficiente para fabricar 5 milhões de vacinas.

As 23 milhões de doses serão produzidas pela própria Fiocruz e, uma vez prontas, serão entregues ao Ministério da Saúde, entre abril e maio. (Roberta Jansen - Estadão Conteúdo)