Plano para reabertura de SP é questionado
Prefeitos do interior e do litoral de São Paulo se mobilizam para contestar o plano de flexibilização da quarentena definido pelo governo estadual. Muitos não concordam com os critérios usados para a inclusão da cidade em uma das três faixas iniciais do protocolo de reabertura das atividades econômicas. Algumas cidades já adotaram medidas que contrariam o plano definido pelo governo do Estado.
Incluída na faixa 2 do plano de flexibilização do governo estadual, a prefeitura de Birigui, na região noroeste paulista, entrou com ação na Justiça para reabrir o comércio imediatamente. Com 120.192 habitantes, 53 casos positivos de coronavírus, a cidade é a única do Estado com mais de 100 mil habitantes ainda sem óbito pela doença. Na mesma faixa, está a cidade vizinha, Araçatuba, que embora tenha população maior, com 195.874 moradores, registra 127 casos e quatro mortes pelo vírus.
Segundo o prefeito de Birigui, Cristiano Salmeirão (PTB), o município seguiu as regras estaduais da quarentena e entende que já fez sua parte “Tivemos um impacto gradativo nas atividades produtivas, com um cenário de desemprego acelerado e retração nos setores de serviços, comércio e indústria. Entendemos que Birigui já pode flexibilizar mais neste momento.” A cidade é um importante polo calçadista do interior, com produção anual de 56 milhões de pares de calçados, principalmente do segmento infantil.
Com a Associação Comercial e Industrial (Acib) e o Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi), a Prefeitura fez um plano próprio de retomada das atividades econômicas. O mandado de segurança contra o governo estadual deu entrada no último dia 22, cinco dias antes do anúncio do plano de flexibilização estadual, e ainda não foi julgado.
“O objetivo é ter reconhecida nossa autonomia para ir além do que o governo está propondo, retomando o comércio e setores produtivos que pararam de produzir em função dos decretos estaduais”, disse.
Segundo ele, a retomada será feita sem descuidar das medidas de segurança que têm mantido, até agora, baixos índices de disseminação da doença na cidade.
O prefeito de Registro, Gilson Fantini (PSDB), reagiu ao tomar conhecimento de que a cidade de 56.322 habitantes no Vale do Ribeira permaneceu na fase 1 -- a mais restrita -- da flexibilização. “Não é culpa nossa se só temos 15 leitos de UTI para uma população regional de 270 mil pessoas. Temos 30 leitos em nosso hospital, mas o governo só licenciou 15 para a Covid-19. Se licencia mais cinco, mudávamos de faixa”, afirma. Fantini disse que a cidade está sendo penalizada por ter aplicado mais testes para detectar o vírus.
Segundo ele, não foi levada em conta a condição de maior pobreza da região, que precisa retomar mais rapidamente a atividade econômica. “Dávamos 150 cestas básicas por mês. Em abril, demos 2 mil, sem ajuda do Estado.”
Na faixa de Registro, estão cidades da Baixada Santista e da região metropolitana de São Paulo, com incidência muito maior, segundo ele.
A prefeitura de Paulínia baixou decreto na quarta-feira, 27, flexibilizando comércio e alguns serviços a mais do que permite o plano do governo estadual. Mesmo com a cidade na faixa 2 (cor laranja), voltaram a funcionar, por exemplo, barbearias, clínicas de massoterapia e podologia, e salões de cabeleireiro. Com 106.766 habitantes, Paulínia tem 91 casos de coronavírus e uma morte confirmada.
Baixada
Na Baixada Santista, o conselho que reúne os prefeitos dos nove municípios pediu uma reunião com representantes do Estado para manifestar insatisfação dos prefeitos por terem permanecido na faixa vermelha, a mais restrita.
Segundo o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), a região tem 15 leitos para cada 100 mil habitantes e quer migrar para a faixa laranja. “Não dá para deixar a Baixada Santista no vermelho e colocar São Paulo, que é centro da epidemia do coronavírus no País, no laranja. Não faz sentido”, diz.
Capital segue em quarentena
Um dia depois do anúncio pelo governo João Doria (PSDB) da retomada gradual das atividades econômicas no Estado, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), evitou dar um prazo para a reabertura dos estabelecimentos na capital paulista.
Segundo ele, a partir de segunda-feira, 1º de junho, a prefeitura começa a receber as propostas de protocolos de cada um dos setores e só depois de análises das áreas de Desenvolvimento Econômico e Saúde haverá a liberação ou não. São Paulo, portanto, não ‘reabre’ no dia 1º.
Segundo ele, apesar do anúncio das medidas de retomada, a cidade continua em quarentena. (José Maria Tomazela - Estadão Conteúdo)