Redução do poder do Estado sobre polícia gera polêmica

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Propostas alteram lei orgânica das polícias civil e militar. Crédito da foto: Fábio Rogério (15/12/2020)

Governadores já se mobilizam contra dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que restringem o poder político dos Estados sobre as tropas armadas e os bombeiros em todo o País. Parte dos chefes dos Executivos estaduais apontou inconstitucionalidade e interferência do Palácio do Planalto nas polícias, uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro. A reação mais forte partiu do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que acusou Bolsonaro de querer “intimidar governadores através de força policial militar”.

Os projetos preveem mudanças significativas na estrutura das polícias. Estabelecem, por exemplo, mandatos de dois anos para os comandantes-gerais da PM, dos Bombeiros e delegados-gerais de Polícia Civil, além de condicionantes para que sejam demitidos. As propostas são alvo de lobby classista e foram discutidas com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, sem que tenham sido ainda formalmente submetidas à Câmara dos Deputados.

“Somos radicalmente contra”, disse Doria ontem ao Estadão. “Já mobilizamos a bancada de São Paulo e outros governadores estão mobilizando suas bancadas.” Rival político e virtual adversário de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, o tucano afirmou que “logicamente” há interferência política do Planalto na proposta das polícias. Para ele, os projetos são de “uma visão de quem gosta de pólvora”.

“Essa proposta veio do Legislativo, mas inspirada no Palácio do Planalto”, reagiu Doria durante entrevista coletiva em que fez novos anúncios sobre a vacina Coronavac, do Butantan e da empresa chinesa Sinovac. “Qual é a razão disto, se historicamente as polícias militares, assim como a Polícia Civil, sempre atenderam, dentro da hierarquia, a orientação dos governos estaduais? Não há nenhuma razão que justifique, exceto a militarização desejada pelo presidente Bolsonaro para intimidar governadores através de força policial militar.”

Doria comparou a tentativa de dar autonomia às polícias a um “processo de ditadura”, de acordo com um auxiliar. Os projetos de lei viraram tema de debate no grupo de WhatsApp dos governadores. Segundo Doria, a maioria é contra. Mas nem todos quiseram se manifestar publicamente, a exemplo dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Rio, Claudio Castro (PSC), ambos aliados políticos de Bolsonaro. Outros alegaram não ter recebido informações oficiais sobre as propostas de mudança.

Alguns governadores, porém, afirmaram que os projetos de lei interferem em suas atribuições constitucionais. “Creio que o Supremo (Tribunal Federal) declararia inconstitucional se isso um dia fosse aprovado no Congresso, na medida em que viola o princípio federativo e também por vício de iniciativa”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). (Estadão Conteúdo)