Cuidado com os dentes na infância ajuda na prevenção durante a vida adulta
A desconfiança pelo ambiente desconhecido ou até mesmo um choro logo passam com as visitas frequentes ao odontopediatra. Para quem não sabe, o dentista, especializado no atendimento das crianças possui todo o conhecimento e técnica necessários para esse tipo de suporte. Em pouco mais de duas décadas de consultório, a doutora Arlene Miarelli Moris está acostumada a conquistar os pequenos a cada consulta. A escolha pela odontopediatria tem relação direta com a satisfação em oferecer os primeiros cuidados com saúde bucal desde as gestantes, passando pelos bebês e chegando até as crianças.
“Os dentes dos bebês nascem no primeiro ano de vida. É preciso falar sobre os cuidados necessários; a importância dessa primeira dentição, a decídua, que antes chamávamos de dentição de leite”, explica a profissional. Arlene recorda que antigamente existia a ilusão de que como os dentes seriam substituídos não eram necessários tantos cuidados. Mas isso não é verdade. “Hoje em dia sabemos que uma criança que tem muitas lesões de cárie na boca não vai conseguir fazer uma boa mastigação. Como consequência não vai se alimentar bem, logo a criança vai ser prejudicada”, detalha. Ainda segundo a odontopedriatra o desenvolvimento da criança vai ser prejudicado, não vai ser somente a dor. Isso sem falar na questão estética, a criança fica mais retraída com um ou mais dentes escuros na boca.
E sabe aquela conversa que sempre ocorre quando se vai pela primeira vez no consultório médico? É igual no odontopediatra. A anamnese é fundamental. Também faz parte desse processo entender a ansiedade da criança. É natural a insegurança que ela sente no consultório nas primeiras visitas. “Somos treinados, temos técnicas para apresentar nosso material de trabalho, fazer uma sensibilização, assim a criança vai conhecendo e ouvindo os sons, para aprender e se sentir segura nesse ambiente”, comenta Arlene. Mas e se o choro persistir? “A criança não tem maturidade para entender que esse é um lugar favorável, mas com o tempo vai se tornando mais simples. Ela vai ficando mais familiarizada e os pais mais tranquilos com a situação”, diz. Isso até facilita quando ocorrem, por alguma razão, episódios de dor de dente. A criança sabe que está no lugar ideal para solucionar o problema e acabar com o incomodo.
Hábitos
Quando se fala na questão dos dentes das crianças é possível estabelecer algumas fases. A primeira é classificada como a do bebê, que vai dos 0 aos 3 anos. A dentista explica que nesse período vão nascer os dentes: serão dez dentes na cavidade maxilar e outros dez na mandíbula. Em seguida irão ocorrer trocas naturais dessa dentição. “É importante o acompanhamento da cronologia dos dentes. Saber se estão bem formados, porque às vezes eles podem vir com defeito na estrutura dental do esmalte, pode ocorrer o início de uma cárie”, orienta.
Além disso as recomendações nessa fase são importantes. “Às vezes a criança não tem hábitos saudáveis ou existem aqueles que estão se estendendo muito, como o uso de chupeta, chupar o dedo ou mesmo o uso de mamadeira, que interferem no crescimento dos ossos ou da musculatura”, explica. De acordo com Arlene a recomendação é quanto mais cedo são removidos esses hábitos, mais chance de não ter uma mordida aberta ou cruzada. “Quando a criança tem a mordida aberta, esses dentinhos são projetados para frente, o risco é maior de ter um trauma, machucar ou trincar”, diz.
Escovação
A higienização dos dentes deve começar desde de cedo. Nesse caso, a partir do nascimento do primeiro dente, a criança precisa fazer a higiene bucal com uma escova de dentes adequada para a faixa etária e cerdas macias . É importante também fazer o uso da pasta com flúor. “O ideal é uma quantidade pequena, um grão de arroz cru, a princípio, e após os 3 anos, a quantidade é de um grão de ervilha. O flúor da pasta é fundamental para prevenção da doença cárie, por isso é indicado fazer a escovação após as principais refeições e principalmente a última escovação da noite. Esse processo deve ser supervisionado pelos pais, já que a criança não tem a coordenação motora fina para a escovação, isso ela só vai desenvolver por volta dos oito anos de idade”, comenta a dentista. A dinâmica precisa ser agradável para os pequenos, sempre após as refeições. “A princípio pode até acontecer de a criança chorar, não gostar, ficar resistente. É preciso estabelecer o hábito da escovação como o da higiene total , assim como banho e troca da fralda” ,reforça. Também vale lembrar que a pasta de dente é uma medicação, a criança não pode manusear sozinha, tem que ser supervisionada, é preciso evitar colocar no dedo ou reaplicar.
Também é fundamental falar da amamentação. O leite materno é o alimento ideal e o próprio ato de sugar o peito da mãe ajuda no desenvolvimento da musculatura, dos ossos, da posição ideal da língua. Contudo existem situações nas quais isso não é possível. O risco está em, ao se fazer o uso da mamadeira, colocar mais alguma coisa, como o açúcar, que pode ser adicionado também no leite, chás ou sucos. É comum inclusive a criança acordar durante a noite e pedir pela mamadeira. “Antes chamávamos de ‘cárie de mamadeira’, mas na verdade se sabe que é carie de acometimento precoce, podendo inclusive ocorrer mesmo quando a criança se alimenta com o leite materno”, explica a profissional. Porém, criar mecanismos para evitar a doença é o melhor. “Uma criança que se alimenta bem durante o dia, até com alimentos que podem ser aos poucos incorporados na sua alimentação é o melhor, com isso não tem necessidade de sugar a mamadeira durante a noite”, diz.
Resultados
O final dessa história é o início de uma vida adulta fundamentada em bons hábitos. Toda a família aprende nesse processo e a criança passa a ser uma multiplicadora de conhecimento. A espontaneidade das crianças ajuda a entender o que está sendo feito de forma incorreta, não importa quantas vezes seja preciso explicar.
É um caminho para facilitar o reforço que necessariamente vai ocorrer na adolescência. “É que algumas coisas voltam. Os pais acham que está tudo bem, que os adolescentes são autossuficientes, mas é comum ocorrer uma regressão, isso sem contar a fase da colocação do aparelho. Nessa hora tem que ter uma adaptação para falar; é preciso também estimular a volta dos bons hábitos, como a escovação frequente”, finaliza a odontopediatra. E ninguém discute que o aprendizado fica, mesmo que seja preciso uma nova abordagem. (Denise Rocha)