Casa de Aluísio de Almeida sofre com trincas, infiltrações e cupins
Casa que abrigou o primeiro historiador de Sorocaba e, portanto, é considerada o “berço da história” da cidade, o antigo sobrado situado na rua Ruy Barbosa, 84, na Vila Hortência, sofre com a deterioração pela ação do tempo.
Construído na década de 1930, o imóvel, que foi de moradia do padre Luiz Castanho de Almeida, o Monsenhor Castanho, que em seus escritos usava o pseudônimo Aluísio de Almeida, foi tombado no início em abril deste ano, mas atualmente apresenta uma série de problemas estruturais.
Além de diversas trincas nas paredes internas, os forros estão comprometidos por infiltrações e cupins e o assoalho de madeira cedeu pelo menos seis centímetros.
A situação do imóvel preocupa a direção do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS), que tem a cessão de uso, pelo município, em regime de comodato até 2024.
Para tentar levantar os recursos financeiros necessários para a manutenção e restauro do imóvel, que abriga a sede da entidade, o IHGGS promoverá no dia 23 um evento beneficente, que também deverá resultar na formação de uma comissão de voluntários interessados em articular uma ampla campanha em prol do imóvel histórico.
O decreto de tombamento do imóvel, que em virtude do seu ilustre morador é conhecido como Casa Aluísio de Almeida, foi assinado pelo então prefeito José Crespo (DEM) e publicado em 4 abril deste ano, onze anos depois do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP) abrir o processo.
O documento impõe ao imóvel o Grau de Preservação 1 (GP1), isto é, integral, compreendendo o interior e exterior, bem como a volumetria, fachadas, cobertura e respectivos elementos ornamentais ou utilitários, se houver.
O presidente da instituição, professor Adilson Cézar, afirma que desde que a entidade obteve o título de comodato foram realizadas duas reformas -- porém, antes do processo de tombamento, já que, segundo ele, no período de análise todas as intervenções têm de ser submetidas ao CMDP. “O tombamento protege, mas engessa [a agilidade das intervenções]”, diz.
Adilson Cézar assinala que após o decreto oficiou o município, ainda na gestão de Crespo, da atual situação do imóvel, “colocando a casa à disposição para o restauro”. Porém, foi informado que, no momento, a Prefeitura não dispõe de recursos financeiros para assumir os custos das obras. O mesmo ofício foi reiterado à administração municipal após a posse de prefeita Jaqueline Coutinho (PDT), mas, segundo o presidente, a entidade não teve retorno até o momento.
Apesar da situação adversa -- o presidente afirma que a única fonte de recursos da entidade é a mensalidade dos sócios --, Adilson Cézar afirma que está disposto a liderar um movimento em prol do imóvel histórico, nos moldes da campanha que viabilizou a construção do prédio novo, que também compõe a sede do IHGGS. “Foram mais de dez anos de luta, mas valeu a pena”, comenta.
O prédio de arquitetura futurista, com fachada de vidro azul espelhado, fica ao lado da antiga casa e simbolicamente une passado e futuro. Projetado pelo arquiteto Ricardo Bandeira, é equipado com um moderno auditório, saguão, espaço expositivo e biblioteca. Foi inaugurado em março de 2012 e construído com recursos de doação de sócios, empresários e emendas parlamentares, captados numa campanha liderada pelo médico Mário Cândido de Oliveira Gomes.
“Queremos formar uma nova comissão, para atuar em prol da casa, no mesmo modelo. Não queremos somente dinheiro, mas pessoas engajadas, que possam contribuir com o restauro, como arquitetos e restauradores”, complementa.
Café Solidário
O primeiro evento organizado em prol do imóvel, intitulado Café Solidário, ocorrerá das 17h às 20h, no Novotel (avenida Izoraida Marques Peres, 770, Campolim) e terá um show de Fabian Presley, cover de Elvis Presley. O convite custa R$ 50 com buffet livre, exceto bebidas alcoólicas.
“Este café é um despertar para a importância do prédio e de sua preservação”, comenta a professora Maria Dorotea Senger, vice-presidente do IHGGS e coordenadora Núcleo Feminino da entidade, que promove atividades sociais, culturais e filantrópicas. (Felipe Shikama)