O que tem atraído homens e mulheres de todas as idades a entrarem na roda e dançar de mãos dadas é a busca por uma religação com a ancestralidade. Crédito da foto: Divulgação / Tania Herbsthofe
Expressão corporal presente em rituais de diversas etnias, a dança circular tem crescido e conquistado cada vez mais adeptos mundo afora. Em Sorocaba, cerca de 200 pessoas participam semanalmente de rodas abertas, em parques e praças, organizadas por pelo menos dez focalizadores, como são chamados os responsáveis por orientar os passos e contextualizar as danças do grupo.
Uma das pioneiras na pesquisa das danças circulares em Sorocaba, a professora Maria Inês Moron Pannunzio afirma que o que tem atraído homens e mulheres de todas as idades a entrarem na roda e dançar de mãos dadas é a busca por uma religação com a ancestralidade, a empatia com outras culturas e o fortalecimento de laços de solidariedade.
Dentre os benefícios da dança circular, estão a melhora de concentração e memória, a promoção de sensação de bem-estar e de emoções saudáveis, a integração e socialização em grupo e o aumento da autoconfiança
Apesar de ancestral, esta prática universal de se reunir em grupo para dançar em volta de um centro, comum em rituais festivos -- como nascimento, casamento, boa colheita, mudança das estações -- se tornou expressão de um movimento global depois que o coreógrafo polonês Bernhard Wosien visitou o norte da Escócia no final da década de 1970 e, ao término da expedição, realizou uma coletânea de coreografias de danças folclóricas circulares praticadas naquela região. “No início da década de 1990, esse movimento chegou ao Brasil e se espalhou formando rodas em parques, escolas, universidades, hospitais, órgãos públicos, ongs, instituições e empresas dos mais variados segmentos”, comenta Maria Inês, que teve seu primeiro contato com a prática em 2002, em São Paulo, e desde então, não parou mais.
O movimento iniciado por Wosien é mundialmente chamado de Danças Circulares Sagradas. Como sagrado é um adjetivo polissêmico, Maria Inês assinala que o termo usado por Bernhard, “heilize” em alemão quer dizer santificado ou sagrado, mas também tem conotações de cura e totalidade. “Esse sagrado não é de religioso. Ele dizia que quando a gente esquece o ego é que a gente chega no lugar sagrado. E colocando o corpo em movimento em círculo, concentrado, essa energia positiva circula com as outras pessoas da roda”, complementa.
O repertório das danças é diversificado e pode incluir músicas tradicionais, regionais, folclóricas ou contemporâneas de todas as partes do mundo. Crédito da foto: Divulgação / Tania Herbsthofe
Leveza no corpo e na alma
Se é para um lugar “sagrado”, para o corpo e a mente, que a dança circular transporta, seria possível falar em benefícios a quem pratica? A focalizadora Talita Cristiane Sutter assinala que desde 2017 a atividade é reconhecida pelo Ministério da Saúde como prática integrativa e complementar de saúde. Dentre os benefícios da dança circular, ela elenca a melhora de concentração e memória, a promoção de sensação de bem-estar e de emoções saudáveis, a integração e socialização em grupo e o aumento da autoconfiança.
Maria Inês Pannunzio detalha que a dinâmica das danças circulares, que geralmente são abertas e ocorrem em espaços públicos, é simples. Inicialmente, ensina-se o passo, treina-se em roda, depois dança-se a música e aos poucos as pessoas começam a internalizar os movimentos, liberar a mente, o coração, o corpo e o espírito.
O repertório, acrescenta, é diversificado e pode incluir músicas tradicionais, regionais, folclóricas ou contemporâneas de todas as partes do mundo. Já os passos podem ser simples e de fácil aprendizado, até os mais sofisticados, para quem já dança há mais tempo, daí a importância de ter focalizadores.
Maria Inês atua como focalizadora em rodas de dança circular abertas ao público, que ocorrem regularmente na Biblioteca Municipal, no Jardim Botânico Irmãos Villas-Bôas, no Parque Natural Chico Mendes e na Praça Shaar Hanegev. Além dela, outras focalizadoras coordenam rodas nestes mesmos espaços e em outros endereços da cidade, como a Floresta Cultural, Clube do Idoso, Chácara do Idoso, Praça Pio XII, Parque da Biquinha, espaço Mãe Terra, Centro Social do Éden e Associação dos Moradores do Éden.
Os horários podem ser consultados no site.
A pesquisadora destaca que o principal enfoque na dança circular não é a técnica, e sim o sentimento de união de grupo, o espírito comunitário que se instala a partir do momento em que todos, de mãos dadas, apoiam e auxiliam os companheiros. “Dança circular é harmonia, ritmo e alegria. É leveza, no corpo e na alma”, conclui Maria Inês. (Felipe Shikama)