Há 20 anos ’Harry Potter’ ajuda a formar jovens leitores no Brasil

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Há 20 anos ’Harry Potter’ ajuda a formar jovens leitores no Brasil

Paulo Rocco, dono da editora que apostou em Harry Potter quando ninguém sonhava que a história criada por J. K. Rowling -- e tantas vezes recusada por editoras do Reino Unido e até daqui--- viraria um fenômeno internacional, gosta de brincar que um dos segredos do sucesso, além da qualidade, claro, é que todo dia nasce criança no mundo. E que, mais cedo ou mais tarde, ela vai se deparar com a coleção e vai devorar os sete volumosos livros e tudo o que a autora publicou depois ou que ainda vai publicar.

Tem sido assim nos últimos 20 anos, desde que “Harry Potter e a pedra filosofal” desembarcou tímido no Brasil para encontrar, rapidamente, seus primeiros leitores.

Maisa Ferreira, hoje com 30 anos, é dessa primeira geração. Ela tinha 12 quando sua irmã mais nova, de 11, ganhou o título de aniversário. Pegou para ler e não conseguia largar o livro. Dois dias depois, tinha terminado -- um fato inédito. “Fiquei encantada com a narrativa e aquele universo, ganhei gosto pela leitura, relia mais vezes enquanto esperava o lançamento do próximo”, conta.

Quando os filmes saíram, ela queria se vestir como os alunos de Hogwarts. Se apaixonou pelos personagens, pela Inglaterra e tudo o que tinha a ver com Harry Potter. Adulta, foi visitar o estúdio da Universal perto de Londres. “Harry Potter foi o primeiro livro que me deu gosto pela leitura, foi o motivo das primeiras visitas a livrarias e me trouxe a curiosidade de procurar autores com os quais eu me identificasse, porque, naquela época, eu não gostava de nada do que lia na escola”, relembra.

Cida Saldanha, a mais antiga vendedora da Livraria da Vila, que já tinha presenciado outros fenômenos editoriais como “Onde está Wally?” e “Olho mágico”, se lembra bem dessa época e do agito na loja. “Harry Potter foi especialmente legal porque despertou a vontade de ler em uma faixa etária que não se interessava muito por livros. As crianças menores, de 5, 6 anos, leem muito. Depois, há uma quebra. Harry Potter mudou isso”, conta. Ela comenta que os livros vendiam muito naquela época, todos os dias, com pessoas de todas as idades frequentando as livrarias.

A Rocco não revela o número de exemplares vendidos desde 2000, mas estima-se que tenha sido algo em torno de cinco milhões de cópias. No fim do mês, para comemorar os 20 anos da saga best-seller no Brasil (a estreia foi dois anos antes, no Reino Unido), ela lança um box comemorativo, com os volumes em capa dura -- elas são assinadas por Brian Selznick, autor de “A invenção de Hugo Cabret”. Quando tudo isso passar e o coronavírus não for mais uma ameaça, a editora pretende fazer um grande evento em São Paulo, com palestras, cursos, exibição de filmes e venda de produtos licenciados, e também encontros com leitores em outras cidades.

Harry Potter é um dos principais títulos da Rocco, mas o que J.K Rowling conseguiu teve efeito nas outras editoras também. ‘Ela quebrou o paradigma de que jovem não lê. O mundo todo tem essa dívida com ela.

Existe o antes e o depois de Harry Potter‘, diz Paulo Rocco. Outras séries se seguiram a esta, e venderam muito bem, como Crepúsculo. Mas o que surpreende o editor é a permanência. Embora os livros hoje não vendam tanto quanto na época do lançamento, volta e meia eles estão nas listas de mais vendidos. É a tal história de que há sempre uma criança descobrindo o bruxo e querendo embarcar em seu mundo de fantasia. (Maria Fernanda Rodrigues - Estadão Conteúdo)