Olho no olho

Para não encerrarmos este parágrafo de forma azeda: esperamos que você volte a ler esta coluna nas próximas semanas

Por Cruzeiro do Sul

Algum esforço você fez para chegar até esta crônica. Se você prefere o jornal impresso, virou algumas páginas até se deparar com este texto encabeçado pela foto de um sujeito gordinho meio sorridente. Se você recorre à versão digital, teve de procurar esta coluna na seção “Letra Viva”, no rodapé do site. Não há foto do cronista na versão digital.

Mas pode ser que você -- tanto na versão impressa, quanto na versão digital -- não tenha feito esforço algum para chegar até este texto. Pode ser que você tenha forrado o chão de um dos quartos do seu apartamento para evitar as manchas inevitáveis de tinta que respingarão quando o pintor começar o trabalho amanhã cedo. Alguma coisa chamou sua atenção ao olhar, de bobeira, para foto do gordinho sorridente que encabeça este texto.

Ou pode ser que você, ao borboletear pelo Facebook, tenha se deparado com a postagem de um amigo recomendando este texto. Como o seu amigo costuma dar boas recomendações de leitura, você decidiu gastar alguns minutos do seu tempo.

E agora precisamos lidar com um ponto crucial. Se você procurou por este texto -- digital ou analogicamente --, é bem provável que você conheça o jeitão do cronista. E se você insiste no encontro semanal com ele, é porque alguma coisa daquilo que ele escreve faz algum sentido para você. Saiba que é com imensa alegria que o cronista faz uma constatação dessas.

Agora, se você se enquadra nas possibilidades levantadas pelos parágrafos 2 e 3, cabe uma brevíssima apresentação aqui. Quer dizer, não é exatamente uma apresentação; está mais para um alerta. E o alerta é o seguinte: o cronista abusa do uso da primeira pessoa.

O uso da primeira pessoa é a base da crônica, se olharmos com lucidez para a questão. O problema está no abuso. E o que seria o abuso? Simples: quando o cronista abre mão da objetividade e sempre recorre a situações por ele vividas, há abuso. Assim, você que se enquadra nas possibilidades levantadas pelos parágrafos 2 e 3 deste texto não pode alegar, a partir deste momento, ter sido vítima de estelionato literário. Para não encerrarmos este parágrafo de forma azeda: esperamos que você volte a ler esta coluna nas próximas semanas.

E agora voltamos novamente nossa atenção para você que procurou por este texto na versão impressa ou digital. Se você está lendo na versão impressa, pode ser que este texto encerre a sua leitura diária do jornal. Ou seja, você espera que a crônica seja um alívio para a sequência de notícias tristes que você acabou de encarar. Se for dessa forma, esperamos que estas palavras honrem a expectativa de quem as lê.

Mas pode ser que você, ao ler a versão impressa, tenha escolhido a crônica como a porta de entrada para a leitura diária do jornal. Ou seja, você espera que a crônica seja oxigênio puro para encarar notícias, muitas delas, desagradáveis. Se for dessa forma, esperamos que estas palavras tenham o efeito revigorante da mistura de pasta de amendoim com doce de leite.

Se você chegou até o fim deste texto -- não importa se leitor voluntário ou acidental; digital ou analógico --, a sua paciência merece ser exaltada. Em vez de ver um vídeo besta, você optou pela boa e velha leitura. Você ficou alguns minutos em silêncio. Você meio que ouviu a voz do cronista. As palavras desta coluna, de alguma forma, ajudaram você a criar algumas imagens. Pode ser que essas palavras tenham desencavado alguma lembrança.

Você leu uma crônica. Agradecemos sinceramente e nos despedimos desejando que a vida seja leve. Leve e divertida. Todos nós merecemos.

nelsonfonsecanetoletraviva@gmail.com