Melodias em voz e violão chegam com ‘Par’
As belezas da canção em seu estado bruto são celebradas no álbum “Par”, resultado da parceria entre compositores Vinícius Paes, de Alumínio, e André Fernandes, de São José do Rio Preto. O trabalho do duo acaba de ser lançado nas principais plataformas de música digital e reúne 12 músicas autorais compostas em parceria, quase todas via e-mail. “Dono só de mim”, uma das canções do disco canção, conquistou semana passada o 1º lugar no Festival de Música Autoral de Araraquara -- Fema 2019.
O disco -- que prioriza a essência da canção, isto é, letras e melodias entoadas nas vozes de ambos e acompanhadas apenas por violões -- é um registro de uma parceria fértil, nascida do acaso e avigorada no respeito mútuo e na troca de experiências. Os dois compositores se conheceram em 2013, justamente em um festival de música: o 8º Festival Nacional de Viola, em Itapina, no Espírito Santo. Na ocasião, Fernandes defendeu “Salmoura”, parceria sua com Sandro Livahck e Zé Alexandre, enquanto Paes a “Canção para acalmar os bichos”, de sua autoria.
Ao fim do festival, André Fernandes seguiria para Campinas e concordou em fazer a viagem de volta com Vinícius Paes, de carro, para poupar gastos e trocar experiências. No percurso de mais de mil quilômetros surgiu uma amizade que se consolidaria na música e na poesia.
Por e-mail
A primeira canção, comenta Vinícius, só viria surgir no ano de 2014, quando ele enviou a André, por e-mail, a poesia “Avelã”, que no dia seguinte voltou em forma de música. “A partir daí fizemos mais de vinte canções”, comenta o compositor aluminense. Curiosamente, desde então, por causa da distância, ambos passaram a se encontrar esporadicamente para shows que dariam origem a “Par” -- nome de uma das canções do duo. A apresentação de estreia ocorreu em Sorocaba, em 2015, no Mi Casa Hostel e Etc. “Desde o princípio a nossa parceria se estabelece com este formato mínimo, de voz e violão, que é o que a gente leva para o palco e para o disco. É um disco de canção”, comenta Vinícius.
Vinícius Paes destaca que a afinidade musical com André se deve, em grande medida, à convergência de influências favoritas da música brasileira, como João Bosco, Aldir Blanc e Guinga e, especialmente, um álbum em duo dos argentinos Edgardo Cardozo y Juan Quintero. Apesar de possuírem gostos em comum, o processo de parceria do duo é sempre cercado de surpresas. “A potência [do duo] está na surpresa, neste outro caminho que nos surpreende”, acrescenta o músico, que também é poeta e se prepara para lançar seu segundo livro.
“Par” foi gravado em dezembro de 2016, mas o lançamento, nas plataformas de música digital (Spotify, Youtube Music e Deezer) só foi possível agora, depois que o duo conseguiu levantar os recursos financeiros para a conclusão dos processos de mixagem e masterização. O disco tem participações do violonista Matheus Pezzotta (que dividiu os violões com André em cinco faixas), da cantora Selma Fernandes ( “Barravento” e “Borboletar”) e do multi-instrumentista Fabio Gouvea, que canta e toca flauta em “Dono só de mim”, canção que fecha o disco.
Diante da sonoridade minimalista dos violões, que sugerem que o ouvinte complete mentalmente os arranjos, o timbre vocal de ambos se confundem na mesma tessitura, desafiando o ouvinte a distingui-los por meio da colocação e articulação. No disco, as vozes do duo foram separadas, com ênfase, no balanço das caixas de som, “que é justamente a formação que a gente assume desde sempre no palco”, acrescenta Vinícius.
O disco foi lançado semana passada, em show em São José do Rio Preto, território de André. Já no reduto de Vinícius, uma série de pelo menos quatro shows, em Sorocaba, São Roque, Limeira e Itu, estão previstos para dezembro. (Felipe Shikama)