Ana Botafogo ganha biografia escrita pelo pai
Livro será lançado hoje contando a carreira da bailarina e registrando a história da dança no Brasil
Uma das maiores bailarinas clássicas brasileiras, Ana Botafogo está completando 40 anos de Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1981, aos 24 anos, ela se tornou a primeira-bailarina da companhia. Iniciou uma jornada profissional que passaria por grandes clássicos do balé, como “O Lago dos Cisnes”, “Giselle”, “Coppélia”, “O Quebra-Nozes”, entre outros, dando destaque ao País na dança mundial.
A história está em “Ana Botafogo: Palco e Vida”, que será lançado hoje (1º). O livro biográfico é assinado pelo pai de Ana, o médico-cirurgião Ernani Ernesto Fonseca, de 95 anos. Ele acompanhou bem de perto a carreira da filha, colecionando fotos, notícias, cartazes e programas ao longo de mais de quatro décadas. Quando descobriu todo o material no apartamento do pai, a própria Ana se espantou.
“Um belo dia, botei uma pessoa para organizar a minha vida, as minhas coisas, e achamos um monte de recortes de jornal dentro de caixas, que ele estava juntando”, contou a bailarina. “Eu sabia que ele estava fazendo a pesquisa, mas não tinha noção de que era aquilo tudo, fiquei surpresa com a quantidade. Até os 89 anos ele ainda trabalhava, mas foi fazendo a pesquisa em paralelo.”
Ernani Fonseca fala do seu trabalho no prefácio da obra. “Neste livro, proponho contar a história que ainda não foi contada e que, presumivelmente, jamais seria, pois, em grande parte, pertence ao acervo exclusivo de minhas recordações e de minha vivência”, escreve. “O que sei, o que vi, o que senti e o que muitas vezes deduzi da vida particular e artística de minha filha, durante os anos em que eu e sua mãe a acompanhamos quase dia a dia.”
Desde os primeiros passos de Ana na vida e no balé, o livro acompanha a trajetória pessoal e profissional da bailarina. Mas não apenas isso, como frisa Ana.
“Meu pai não buscou informações apenas sobre mim, mas sobre tudo o que aconteceu de mais importante na dança no Rio, no Brasil e no Theatro Municipal”, diz. “É um registro histórico importante.”
Com 908 páginas, o livro foi concluído há cerca de cinco anos, mas a família esperava pelo melhor momento para lançá-lo. A oportunidade surgiu com a parceria com o Instituto Bees of Love. Parte do dinheiro da venda dos livros será destinada à reforma da maternidade do Hospital Miguel Couto, no Rio.
“Estávamos esperando o melhor momento, houve muitas dificuldades nos últimos anos. Sofremos muito no Municipal durante um período em que os salários não eram pagos; então achei que não tinha clima para um lançamento desses, de alegria, de vida”, revela Ana. “Quando começamos novamente a mexer no passado, veio a pandemia. Mas agora é o momento. Papai está com 95 anos, quero que tenha a alegria de lançar este livro.”
O livro, claro, será lançado no Theatro Municipal, mas num espaço externo, por conta da pandemia.
“O teatro tem uma importância muito grande na minha vida, é o lugar onde passei mais tempo da minha vida”, constatou Ana. “Foi através das produções do Municipal que recebi convites para dançar em vários locais do Brasil e também do exterior.”
Ana parou de dançar profissionalmente há seis anos, mas continua trabalhando no teatro. De 2015 a 2018, inclusive, dirigiu a companhia. “Com a pandemia, tudo ficou ainda mais difícil”, diz ela. “Só voltamos a trabalhar presencialmente na semana passada e, mesmo assim, apenas algumas pessoas.”
Os espetáculos para o público seguem proibidos, mas o palco já foi liberado para ensaios. Ainda assim, afirmou Ana, a pandemia terá um impacto grave em toda uma geração de bailarinos. Muitos tiveram que abandonar a profissão para sobreviver.
“É um momento muito triste, muito delicado para a dança de uma maneira geral”, contou. “Todos os nossos bailarinos ficaram em casa. Claro que fizeram exercícios, mantiveram seus corpos trabalhando, mas a dança precisa de espaço, precisa de um piso adequado para saltos, de um lugar para correr, do contato físico Precisamos voltar aos teatros. O artista em geral sente falta do público, precisa do público para se aperfeiçoar, se superar na interpretação. A dança não é só exercício físico. A dança é a reunião da parte física com a interpretação do ator.” (Da Redação com Estadão Conteúdo)