Movimento Armorial, de Ariano Suassuna, é tema de mostra

Sua intenção era elaborar uma estética culta (de música, teatro, dança, literatura) partindo da herança popular

Por Cruzeiro do Sul

Exposição de trabalhos de Ariano Suassuna segue até 26 de setembro

Foi em 1970, mais precisamente no dia 18 de outubro, que o escritor Ariano Suassuna (1927-2014), disposto a criar uma arte erudita, mas com raízes profundas na cultura popular, lançou o “Movimento Armorial”. Sua intenção era elaborar uma estética culta (de música, teatro, dança, literatura) partindo da herança popular -- o resultado foram obras que reconheceram e renovaram a tradição, trabalho dos quais os mais representativos poderão ser vistos a partir de hoje (20), quando abre a mostra “Movimento Armorial 50 Anos”, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.

A dimensão de sua importância está no fato de todo o prédio do CCBB (quatro andares e subsolo) ser ocupado por cerca de 140 obras (a maioria jamais tinha saído do Recife, onde vivia Suassuna) em diversos formatos - desde a “Onça Caetana”, anfitriã que recebe o público e é um elemento cenográfico inspirado nos desenhos de Suassuna, até pinturas, xilogravuras e esculturas. “A exposição é fiel à proposta de Ariano, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade e às tradições, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, e plena de humor - um humor que faz pensar”, afirma a curadora Denise Mattar.

O escritor dizia que a criação do movimento era uma resposta à sua inquietação sobre os caminhos seguidos pela arte nacional. “Comecei a ficar preocupado com a descaracterização da cultura brasileira”, comentou ele, em uma entrevista para a TV Globo, em 2013.

Raízes populares

“Pensei em reunir um grupo de artistas que atuassem em todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas”, diz ele, “para que juntos procurássemos uma arte brasileira erudita fundamentada nas raízes populares da nossa cultura. E, através dela, a gente lutar contra esse tal processo de descaracterização da cultura brasileira.‘

Ao seu redor, reuniram-se escritores, músicos, artistas plásticos e gente de teatro - nomes como Francisco Brennand, Gilvan Samico, Maximiano Campos, Ângelo Monteiro, Marcus Accioly, Miguel dos Santos, Raimundo Carrero e Antônio José Madureira eram os integrantes do primeiro núcleo.

A multiplicidade de talentos gerou uma obra vasta e heterogênea, que vai do branco e preto das xilogravuras, passando pelo multicolorido dos ornamentos e fantasias de festas populares até chegar às coreografias de danças

A mostra foi criada por Regina Rosa de Godoy e estava prevista para 2020, quando marcaria o cinquentenário do Movimento Armorial, mas foi adiada devido à pandemia de Covid.

O CCBB fica na avenida Álvares Penteado, 112, Centro Histórico de São Paulo. Mais informações e ingressos pelo https://ccbb.com.br/. (Da Redação com Estadão Conteúdo)