Morre, aos 81 anos, Emanoel Araújo
Escultor, pintor e museólogo foi o criador do Museu Afro Brasil
Emanoel Araújo, de 81 anos, morreu na madrugada desta quarta-feira (7) em sua casa em São Paulo. De acordo um amigo do artista, ele foi encontrado morto no escritório de sua residência, onde serviria um almoço para conhecidos. Araújo foi vítima de um ataque cardíaco fulminante.
Desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor e curador, Emanoel Alves de Araújo nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, em 15 de novembro de 1940. A primeira exposição individual foi em 1959 e, na década seguinte, seguiu para Salvador, onde ingressou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde estudou gravura com Henrique Oswald (1918-1965).
Em 1972, recebeu a medalha de ouro na 3.ª Bienal Gráfica de Florença, Itália, e, no ano seguinte, o prêmio de melhor gravador. Entre 1981 e 1983, instalou e dirigiu o Museu de Arte da Bahia (MAB), em Salvador, além de expor individualmente no Museu de Arte de São Paulo, o Masp.
De 1992 a 2002, exerceu o cargo de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde foi responsável pela revitalização da instituição. E, em 2004, tornou-se curador e diretor do Museu Afro-Brasil, aberto naquele ano, em São Paulo, com obras de sua coleção.
No livro Emanoel Araújo - Escultor (2011), o crítico Paulo Herkenhoff observa a múltipla vocação de Araújo, lembrando que foi com um volume de Dom Quixote, ilustrado por Daumier, que o artista iniciou ao mesmo tempo uma carreira de artista, bibliófilo e colecionador.
Arte afro-brasileira
Justamente no dia em que se comemorou o bicentenário da Independência, o artista e curador, que lutou para colocar a arte afro-brasileira dentro dos museus, num gesto de afirmação contra o eurocentrismo, morreu. É um desaparecimento simbólico.
Exemplo de sua contribuição para o reconhecimento da arte de afrodescendentes foi a histórica exposição A Mão Afro-Brasileira, de 1988, que pode ser lembrada por meio dos dois volumes editados sob sua supervisão. Na primeira edição, lançada justamente no centenário da Abolição, Emanoel mostrava-se combativo, reivindicando espaço para a arte dos descendentes de escravizados.
Na segunda, de 2010, alguns textos foram suprimidos, como um artigo do pioneiro Nina Rodrigues, de 1904, que falava da arte dos colonos negros. Nota-se aí uma atenuação do discurso radical de Emanoel Araújo.
No meio acadêmico, críticos e curadores sempre apoiaram suas iniciativas, especialmente as exposições do Museu Afro Brasil, mas também sua luta para salvar a Pinacoteca do Estado, um prédio em escombros quando ele assumiu sua direção e chamou o arquiteto Paulo Mendes da Rocha para a restauração, levantando o museu.
Na Pinacoteca, ele passou dez anos (1992-2002) mudando a política de aquisição de obras e privilegiando artistas contemporâneos. Lá, organizou exposições históricas, como Vozes da Diáspora e outra do pioneiro fotógrafo Marc Ferrez. Como escultor e artista gráfico, suas obras adotaram a linguagem abstrata e geométrica, incorporando elementos da arte religiosa de matriz africana. A mais conhecida, Aranha (1981), pode ser vista no Jardim das Esculturas do Parque do Ibirapuera. (Estadão Conteúdo)