‘Vitalino, teu nome no barro’ estreia nas escolas públicas

Espetáculo da Tempo de Brincar exalta cultura popular brasileira

Por Cruzeiro do Sul

Elaine Buzato conta história inspirada nas obras do ceramista Mestre Vitalino

Um encantamento do começo ao fim. É isso que oferece o novo espetáculo criado pela multiartista Elaine Buzato, atriz, artista visual, bonequeira, brincante, e pelo músico e compositor Valter Silva. As primeiras apresentações de “Vitalino, teu nome no barro”, de 10 a 12 de maio, serão exclusivas para alunos da rede municipal de ensino de Sorocaba e seus familiares. Em julho, as apresentações serão abertas ao público, no Sesc de Sorocaba. Trata-se de um projeto contemplado pelo ProAC para a produção de espetáculos para o público infanto-juvenil.

No espetáculo, uma boneca de barro feita por Mestre Vitalino , depois de muitos anos guardada, por encanto cria vida, mas suas memórias estão sendo engolidas por um misterioso Teiú, um lagarto malvado. Para reencontrar seu Mestre e a si mesma, a boneca busca suas memórias, misturadas com as de Vitalino e suas histórias, e visita lugares imaginários, encontrando divertidos e encantados personagens como as cirandeiras, a banda de pífanos, os retirantes, a Maria Bonita. “Nesses encontros entre brincadeiras, canções e histórias, a boneca vai descobrindo a história do seu povo e também, como o barro, reconstrói a sua própria história”, diz Elaine.

Muitas experiências se juntam durante a apresentação, com destaque para os bonecos feitos em cerâmica fria, com inspiração no ceramista e músico pernambucano Mestre Vitalino. As peças retratam o próprio artista, os retirantes, o teiú (um dos protagonistas da história), as violeiras e até Maria Bonita. Mestre Vitalino morreu em 1963.

Além dos bonecos, manipulados com leveza, destreza e graça, Elaine dança, canta e vivencia a história, que ensina muito desde as questões da cultura nordestina até aspectos sociais da atualidade: com sutileza, temas como o feminismo, a migração e o racismo aparecem. O educador e filósofo Paulo Freire, também nordestino, faz parte da inspiração e algumas de suas frases estão no texto da peça. O livro “Arte do barro e o olhar da arte - Vitalino e Verger”, com fotos que Pierre Verger fez de Vitalino em Alto do Moura e Caruaru, também influenciou a criação.

Porém, a maior riqueza de toda a pesquisa foi a viagem que Elaine e Valter fizeram até a casa do Mestre Vitalino “estivemos onde ele viveu e onde criou tanto! Vimos de perto sua história e seu legado”, diz Elaine.

Ela conta que “há muitos anos pesquiso sobre o Mestre Vitalino, e aprendi a admirar mais e mais a sua história e sua arte. Ele usava o barro para contar suas histórias, modelando figuras de bichos e cenas do seu povoado”. A peça que levou mais de um ano para ser montada -- inclui referências a diversas manifestações artísticas de Pernambuco como os caboclinhos, o maracatu rural e a figura do caboclo de lança, as cirandas. Além disso, a riqueza do artesanato é explorada no cenário, criado com rendas de bilro, renda filé e muitas cores”.

A multiartista comenta ainda que “foi um grande desafio porque é a primeira vez que criei a dramaturgia e a encenação em torno do teatro de bonecos. A direção de encenação de Dani Silva, que é uma grande atriz, diretora e pesquisadora foi mais uma contribuição para toda a criação”. O espetáculo mantém a estética da Cia Tempo de Brincar, que a artista mantém há mais de 20 anos com o músico Valter Silva, criador das canções de Vitalino. Aí também se mostra uma grande sincronicidade, já que o músico, inspirado pela pesquisa e visita à casa do Mestre, expressa aquele universo com canções de muita sensibilidade.