Roteiristas e estúdios de Hollywood anunciam acordo que pode encerrar greve

Segundo o sindicato de roteiristas dos Estados Unidos, houve um acordo provisório; a paralisação no setor já dura vários meses

Por Cruzeiro do Sul

A greve dos roteiristas de Hollywood já dura vários meses

O sindicato de roteiristas dos Estados Unidos (Writers Guild of America, WGA) e os estúdios de Hollywood alcançaram um princípio de acordo que pode acabar com a greve de vários meses no setor.

"Alcançamos um acordo provisório, o que significa um princípio de acordo sobre todos os pontos do acordo, que está sujeito à redação do texto final do contrato", disse afirma uma carta que o sindicato enviou aos membros.

"Podemos dizer, com grande orgulho, que este acordo é excepcional, com ganhos significativos e proteções para roteiristas em todos os setores", afirma a carta, que não revela detalhes da negociação.

"Para ser claro, ninguém retornará ao trabalho até que seja especificamente autorizado pelo sindicato. Ainda estamos em greve. Mas, a partir de hoje, suspendemos os protestos do WGA", afirma a carta.

Um comunicado curto conjunto da WGA e da AMPTP, grupo que representa os estúdios e as empresas de "streaming", confirmou o acordo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, celebrou o acordo nesta segunda-feira (25). "Aplaudo" ambas as partes "por terem alcançado um acordo de princípio que permitirá aos roteiristas retomarem seu importante trabalho", afirmou em nota, na qual elogiou o "poder da negociação coletiva".

Greve dos atores

Milhares de roteiristas de cinema e televisão interromperam os trabalhos em maio, para reivindicar melhores salários, bônus maiores pela criação de programas de sucesso e proteção contra o uso de Inteligência Artificial (IA). 

Protestos foram organizados nos últimos meses diante de estúdios como Netflix e Disney. Em julho, o sindicato dos atores (SAG-AFTRA) também anunciou uma greve, o que deixou praticamente vazios os geralmente lotados sets de filmagens de Hollywood.

O SAG-AFTRA felicitou o WGA pelo princípio de acordo e elogiou a "incrível força, resistência e solidariedade dos protestos". "Estamos ansiosos para revisar o acordo provisório da WGA e da AMPTP, mas seguimos comprometidos em alcançar os termos necessários para os nossos membros", afirmou o sindicato dos atores.

As negociações entre os estúdios e os roteiristas estavam paralisadas há semanas, mas, nos últimos dias, um novo senso de urgência parece ter sido injetado no processo, com a participação de executivos de alto escalão de Netflix, Disney, Universal e Warner Bros Discovery.

Entre as reivindicações, os roteiristas afirmam que seus salários não acompanharam a inflação e que a ascensão do streaming diminuiu os pagamentos "residuais", que eles recebem quando uma série em que trabalharam vira um grande sucesso.

A categoria também exigiu restrições ao uso de IA, devido ao temor de que a ferramenta poderia ser utilizada para substituí-los parcialmente na elaboração de roteiros de filmes e séries, o que reduziria ainda mais seus salários.

US$ 5 bilhões

O jornal Financial Times divulgou um relatório do instituto Milken que, no início de setembro, calculava o custo da greve para Hollywood em 5 bilhões de dólares (24,5 bilhões de reais).

Com 146 dias, a greve do WGA supera com folga a paralisação de 100 dias dos roteiristas entre o fim de 2007 e início de 2008, que custou US$ 2,1 bilhões para a economia da Califórnia. E, mesmo que a greve dos roteiristas termine, o mesmo não acontecerá, necessariamente, com a paralisação dos atores.

Não há relatos de negociações entre os estúdios e o SAG-AFTRA, que tem 160.000 filiados. "Nós continuamos em greve em nosso contrato de TV/Cinema e continuamos a pedir aos CEOs dos estúdios e streamings e à AMPTP que retornem à mesa para alcançar o acordo justo que nossos membros merecem e exigem", afirmou o SAG-AFTRA. (AFP)