Ailton Krenak é o primeiro indígena a se tornar imortal
Escritor teve 23 votos para cadeira na Academia Brasileira de Letras
Ailton Krenak é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) -- e o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL. Autor dos livros “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), “A vida não é útil” (2020) e “Futuro ancestral” (2022), lançados pela Companhia das Letras, Krenak é filósofo, escritor e ambientalista engajado em mostrar novos jeitos de viver -- que poderiam ajudar a garantir o futuro da humanidade.
“É preciso parar a velocidade do progresso para chegarmos no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na Terra. Isso foi um engano”, disse o novo imortal em uma entrevista a Morris Kachani, em 2020, publicada em seu blog no Estadão.
Krenak era mesmo o favorito em uma eleição que contava com 11 candidatos. Ele teve 23 votos. A historiadora Mary Del Priore, autora de uma significativa obra acessível ao grande público, foi a segunda mais votada, com 12 votos. Daniel Munduruku, pioneiro da literatura indígena escrita e o primeiro autor indígena a publicar um livro para crianças não indígenas (Histórias de Índio, Companhia das Letras, 1996) recebeu 4 votos.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Krenak é um poeta com “visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia. É um indígena que trabalha com a cultura indígena, com a valorização da oralidade”.
Direitos indígenas
Ailton Krenak nasceu em 1953, na região do vale do rio Doce (MG), território do povo Krenak, um local afetado pela atividade de extração de minérios. Krenak é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Nas décadas de 1970 e 1980, foi determinante para a conquista do “Capítulo dos índios”, o capítulo 8º na Constituição de 1988, que passou a garantir, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra. A data de posse ainda não foi definida pelo novo imortal. A escolha é um acerto dele com a ABL.
Em “A vida não é útil”, ele aborda a pandemia da Covid-19 e diz: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda”, diz em trecho da obra. (Da Redação com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)