Estudantes do Conservatório de Tatuí à beira do despejo

Governo do Estado decidiu fechar o alojamento e oferecer uma bolsa-auxílio

Por Luis Felipe Pio

Manifestações e protestos tentam reverter a decisão do governo paulista

O alojamento público do Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, será fechado no início de 2024 por determinação do Governo do Estado de São Paulo. Em substituição, os alunos da instituição que vivem no local passarão a receber do governo a quantia mensal de R$ 450 para arcar com despesas, como aluguel e alimentação. Os moradores, no entanto, consideram o montante insuficiente para a manutenção de suas necessidades básicas e, por isso, estão fazendo uma mobilização em prol da manutenção do alojamento, que recebe alunos do Brasil inteiro. Atualmente, cerca de 200 pessoas vivem no local.

Um estudante de música e ocupante do alojamento, que prefere ter a identidade preservada, recebeu um e-mail de despejo da Sustenidos, empresa que administra o conservatório, dizendo que todos os moradores devem desocupar os quartos até o dia 31 de janeiro de 2024. O prefeito de Tatuí, Miguel Lopes Cardoso Júnior (MDB), ao lado da secretária estadual de Cultura, Economia e Indústria Criativas (Sceic), Marilia Marton, divulgou um vídeo em sua rede social dias antes, explicando que, a pedido do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em troca da moradia, os alunos receberiam uma bolsa no valor de R$ 450 para que possam montar repúblicas e morar mais perto do conservatório.

Além dos 40 moradores regulares, que vivem de forma permanente durante a duração de seus cursos, o alojamento abriga também diaristas -- que são estudantes e professores que vêm de outras cidades e estados e precisam de morada alguns dias da semana para manter suas atividades no conservatório. Ao todo, 197 pessoas utilizam o espaço.

O estudante relata que lá, além da moradia, os alunos têm acesso gratuito a água, luz, sala de estudos, alimentos não perecíveis e mobílias, como geladeira, fogão e máquina de lavar. Além disso, o local é preparado para receber músicos e outros artistas, portanto, os quartos são individuais e possuem isolamento acústico. "É impossível um aluno dividir quarto, porque, imagine, um trombonista dividindo quarto com um baterista... ambos não conseguiriam estudar", explicou.

O estudante expôs que, em reunião com representantes da Sceic, foi explicado aos alunos que a quantia da bolsa-auxílio, no valor de R$ 450, foi ofertada com base em "pesquisas de custo de vida". Também foi dito que o alojamento está "deteriorado" e precisaria passar por uma reforma que custaria ao Estado cerca de R$ 9 milhões -- por isso, a melhor opção seria desativa-lo. O Cruzeiro do Sul solicitou à pasta os documentos que atestam que o alojamento está em condições impróprias para se morar, bem como o laudo comprovando o valor da reforma do prédio, mas não obteve retorno sobre essas questões.

Em nota, a Sceic informou que "o benefício de R$ 450 é uma política de Estado e é uma forma de auxiliar os estudantes, contribuindo de forma mais eficiente para a autonomia das pessoas beneficiadas, que terão a opção de se organizar para morar em espaços mais próximos ao local de estudo". O órgão também destacou que o alojamento necessita de reformas de intervenção estrutural e modernização, além de ter um custeio anual de cerca de R$ 1 milhão.

"Estamos fazendo petição, panfletagem, manifestações e paralisações. Também recebemos apoio da Câmara de Vereadores de Tatuí, que está ajudando nos projetos legais para tentar reverter essa medida. Esperamos que nossas ações modifiquem essa situação, porque, quando recebi o e-mail de despejo, eu fiquei abismado, todo mundo ficou assim. Na hora, já começamos a pensar em formas de combater isso", revelou o estudante. (Luís Pio - programa de estágio)