Fat Family relembra história e celebra turnê de 25 anos

Grupo conta agora com três integrantes da formação original

Por Beatriz Falcão

Katia, Simone e Suzete fazem planos para o novo projeto

 

Em um formato mais enxuto, o grande sucesso da década de 90 retorna aos palcos nas vozes de Katia, Simone e Suzete Cipriano.

O ano era 1998 e o grupo sorocabano Fat Family balançava o Brasil inteiro ao som de ’Jeito Sexy’. Composta pelas vozes de oito animados irmãos Celinha, Celinho, Deise, Katia, Sidney, Simone, Sueli e Suzete Cipriano, a banda se tornou um dos grandes sucessos da década de 90. Hoje, três integrantes retomaram o legado para celebrar 25 anos de muita música e história.

Katia, Simone e Suzete assumiram para si o desafio de subir aos palcos novamente. Para elas é no mínimo irônico já que nunca tiveram a ’veia artística’ da família, como apelidaram. ‘No começo nós tínhamos muita vergonha, não tínhamos a certeza que queríamos seguir carreira na música, o sonho de estar no palco. Então para nós está sendo muito louco, muito!‘, enfatiza Suzete aos risos.

A ’veia artística’ é, na verdade, uma herança dos seus avós e acompanha a família Cipriano há quatro gerações. Katia, Simone e Suzete são da terceira geração e contam que receberam formação musical na própria casa, com os pais e com os irmãos que tinham mais desenvoltura. Já os treinos aconteciam nos churrascos em família, sem a pretensão de um dia subir nos palcos e cantar para milhares de pessoas.

No entanto, as irmãs não só subiram nos palcos e cantaram para milhares de pessoas, como, em parceria com outros cinco irmãos, se tornaram o fenômeno dos anos 1999 e 2000, sendo um dos principais conjuntos vocais de soul e R&B que surgiram no Brasil.

‘Na verdade, a Deise nos obrigou‘, relembra Suzete. ‘Foi simplesmente assim que entramos para o Fat Family, mesmo sem a intenção de seguir carreira musical. Quando surgiu a oportunidade de formar o grupo com os irmãos, ela bateu na porta das nossas casas e falou que iríamos entrar, não tinha como falar não‘.

Após quatro álbuns gravados, o grupo começou a se afastar dos palcos e, aos poucos, mudou o foco para a música gospel e para projetos pessoais.

Racismo e gordofobia

O conjunto musical formado pelos oito irmãos representou muito mais do que um sucesso da década de 90, eles também foram responsáveis por quebrar paradigmas que, até então, não tinham espaço nas mídias: o racismo e a gordofobia.

Pretos, gordos e do interior de São Paulo, as irmãs relembram os desafios no início da carreira como, por exemplo, a necessidade de uma costureira para fazer suas roupas, uma vez que nas lojas só tinham peças para as pessoas magras. No entanto, hoje, percebem como a exposição foi importante para que a sociedade tomasse consciência de outros corpos e cores.

‘Quando aparecemos na televisão, nós éramos um ponto fora da curva do padrão magro e branco, mas por meio disso as pessoas começaram a entender que cada um tem o seu corpo, o seu valor, e sua diversidade‘, explica Suzete. ‘Foi nítido para nós. Lembro que recebíamos cartas de pessoas que estavam em depressão por conta do preconceito que viviam. A partir desse momento nós começamos a entender que a nossa presença não era só sobre música, e sim sobre quebrar padrões‘.

A Dor do Luto

Apesar de uma trajetória brilhante e de muito sucesso, o Fat Family também enfrentou a dor do luto. Primeiro em 2011, com a morte de Sidney Cipriano em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), e depois em 2019, com o falecimento de Deise, a caçula e voz principal do grupo.

‘Nós estávamos com um circuito interessante de shows quando a Deise ficou doente, inclusive, seu último show foi de cadeiras de rodas‘, conta Suzete. ‘Lembro que depois da apresentação nós fomos ao hospital, já sabíamos que ela não voltaria aos palcos‘.

A notícia do óbito veio em uma terça-feira, no dia 12 de fevereiro, após uma longa luta contra o câncer no fígado. O momento foi, segundo Suzete, de grande e imensurável tristeza. ‘Não queríamos voltar aos palcos, estávamos perdidas mesmo. Cada irmão ficou escondido em sua ’caverna’, não tocamos no assunto, ninguém falava de música e muito menos do Fat Family. Na verdade, nem tínhamos argumentos para falar sobre porque foi um período de um luto muito profundo‘, relata.

Hoje, o legado de Deise está com sua filha, Talita Cipriano, que acompanha Katia, Simone e Suzete em algumas apresentações.

A Turnê de 25 Anos

Uma das lembranças que as irmãs guardam de Deise aconteceu em 2018, quando reunidas conversavam sobre a possibilidade de uma turnê em comemoração aos 25 anos do Fat Family.

‘Eu a princípio não queria. A música não era mais a minha área e eu estava com outros projetos, contudo, a música sempre foi muito forte para a Deise, para a família, e faz parte da nossa história‘, relembra Simone. ‘Por isso nós voltamos, embora um pouco inseguras‘.

O apoio que encontraram no público foi algo fundamental para que Katia, Simone e Suzete prosseguissem. ‘Nós começamos a entender a força que tínhamos, estava praticamente tudo ao nosso favor, para estarmos de volta aos palcos. Era expectativa do público, a gratidão pelo o que eles representam em nossas vidas, porque se a gente chegou até aqui é por causa deles! Porque eles têm um grande carinho por nós!‘, salienta Suzete.

Já para Katia, atravessar todos os estados do Brasil está sendo, em suas palavras, mágico e gratificante. ‘Cada show é uma emoção diferente. Tem duas músicas que são homenagens, uma para o Sidney e outra para a Deise, e tem sido muito emocionante, um momento muito forte‘, conta.

E quando questionadas sobre o futuro, as três irmãs dão fortes gargalhadas e afirmam que continuarão enquanto for a vontade de Deus, porque se depender da vontade do público, será para sempre.

‘Nós estamos curtindo esse momento, lembrando os antigos sucessos, mas sabemos que esse ciclo um dia será encerrado, assim como aconteceu com nossos irmãos. Quando? Nós não sabemos, o único que sabe é Deus, e nós estamos aqui para fazer a vontade Dele‘, explica Suzete.

No entanto, enquanto esse dia não chega, Katia revela que estão com projetos e acrescenta que novidades chegarão em breve, para ‘fechar esse ciclo com chave de ouro‘. (Beatriz Falcão - programa de estágio)