Dira Paes faz boa estreia na direção com ‘Pasárgada’

Primeiro trabalho da atriz como diretora teve boa aceitação em Gramado

Por Cruzeiro do Sul

Dira atua no filme que tem como enredo a crise existencial de uma mulher e a defesa do meio ambiente

A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. “Pasárgada”, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer - a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres. Aves, no caso.

Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da Mata Atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior.

Como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora quando se pensa que esta é uma das maneiras mais cruéis de depredar a natureza, tirando os animais do seu habitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores.

Mas, a proposta de “Pasárgada” põe em cena não apenas a narração desse problema; ela propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos-sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen.

Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça, que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga.

Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente.

O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade) surgem mais da matéria cinematográfica - imagens e sons - do que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores.

Pasárgada é uma ótima estreia, como diretora, dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes. (Da Redação, com informações de Estadão Conteúdo)