‘O sorocabano está na tela’; confira entrevista exclusiva com Paulo Betti
“Assistir ao pior filme brasileiro vale mais do que ver o melhor filme estrangeiro”. A frase atribuída ao crítico de cinema Emílio Sales Gomes (1916-1977) é resgatada pelo ator e diretor sorocabano Paulo Betti para convidar seus conterrâneos a prestigiarem seu novo longa-metragem, inteiramente rodado na região de Sorocaba.
“A fera na selva” estreou quinta-feira (17) na sala 7 do Cineplay (Sorocaba Shopping) e fica até em cartaz até a próxima quarta-feira, com sessões às 17h, 19h e 21h. Betti promete estar presente em todas as 23 sessões, o que tem feito desde a estreia, não apenas para uma breve fala ao público antes da exibição do filme, mas também disponível para fotos, conversas e abraços ao final. “Não tem nenhum filme mais importante para Sorocaba do que o nosso, porque o sorocabano está na tela”, argumenta.
https://www.youtube.com/watch?v=sXPdMnmh9mE&feature=youtu.be
A primeira sessão de “A fera” em circuito comercial na cidade ocorreu na última quinta e, em virtude do horário pouco convidativo, às 17h, atraiu um público modesto de cerca de 30 pessoas -- mas suficiente para lotar a sala de emoção. “Estou muito emocionado em poder mostrar esse filme para vocês”, disse.
No lar
Para Betti, poder exibir “A fera na selva” na telona em Sorocaba é como trazer da maternidade seu filho recém-nascido e apresentá-lo ao lar onde ele foi concebido. O longa foi rodado inteiramente em Sorocaba, em endereços icônicos como a Catedral, a antiga Estação Ferroviária, o prédio dos Correios da rua São Bento, a sede Fundec, e em locações da região, como a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, a Represa de Itupararanga, em Votorantim, e o Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), em Salto.
No entanto, mais do que esses cenários que conectam afetivamente os moradores de Sorocaba à adaptação da novela homônima do britânico Henry James -- a história fala de questões universais como solidão, amor e morte e poderia ser ambientada em qualquer lugar do mundo --, o filme contou com o engajamento de dezenas de sorocabanos, incluindo artistas que fizeram parte da trajetória de Paulo Betti, como a atriz, bailarina e coreógrafa Janice Vieira e os atores Ademir Feliziani e Mario Persico.
Vale destacar que, em 2015, quando reuniu todas as condições necessárias para filmar, Betti fez um chamamento público para a população local interessada em participar do longa. A única exigência era ler a novela original, o roteiro da adaptação e participar de uma série de sessões especiais no teatro do Sesi, com exibições de filmes referenciais, como “Limite” (1931), de Mário Peixoto, seguidas de bate-papo. “Conseguimos fazer um time de umas 500 pessoas”, lembra. Nesta quarta, ao entrar na sala de cinema e ver alguns rostos familiares de pessoas que participaram como figurantes, Paulo Betti arriscou chamá-los pelo nome. Foi certeiro.
“E a Eliane?”, perguntou um espectador, referindo-se à atriz Eliane Giardini, com quem Betti contracena no filme. Ex-esposa do ator, ela também assina a co-direção do filme. “Ela não veio. É mais reservada, diferente de mim, que vou pra frente... Eu sou maluco, senão não faria isso aqui”, argumenta.
Caixeiro viajante
O “isso aqui” mencionado é, nada menos, que a inusitada iniciativa de defender o filme presencialmente, participando das sessões especiais em vários cantos do País, levando o filme debaixo do braço como uma espécie de caixeiro viajante. Desde que encerrou a sua participação na novela “Orfãos da terra” da Rede Globo, no final de setembro, o ator e diretor já levou “A fera” para Santos, Rio de Janeiro e Belém (PA).
Depois de Sorocaba, Betti ainda viajará com o filme para Brasília (DF), Fortaleza (CE) e Teresina (PI), até que o longa finalmente entre nas plataformas de vídeo por demanda, o que deve ocorrer no primeiro semestre do ano que vem. “É uma coisa um pouco quixotesca, mas é a disputa do espaço que é necessário para o nosso cinema [o cinema brasileiro]. É uma emoção grande também porque a telona é um espaço que não é muito permitido para nós, é o espaço do filme estrangeiro. ‘A fera’ está disputando com o ‘Coringa’ na tela grande. Parece simples, mas é complicado. Envolve todo um sistema estabelecido de poder”, avalia.
Na telona
A possibilidade de exibir sua obra em tela grande impõe várias questões de ordem técnica, para que a experiência cinematográfica seja completa -- o que Betti faz questão de cuidar com zelo.“Será que a temperatura do ar está boa? Será que a porta está totalmente fechada?”, pergunta aos produtores que o acompanham nesta jornada. “Um filme é como um filho. Aos poucos vou conseguir desmamar”, brinca.
O ator e diretor Paulo Betti visitou nesta sexta-feira (18) a redação do jornal Cruzeiro do Sul, onde concedeu uma entrevista exclusiva em vídeo. Em uma conversa descontraída , o artista sorocabano falou da relação com o Mais Cruzeiro, o caderno de cultura, para o qual escreveu por quase 20 anos, da emoção ao exibir o filme em sua cidade natal e dos futuros projetos. Entre eles, a possível montagem de um especial para a Rede Globo baseado na opereta “A canção brasileira”, de 1933, com libreto de Luis Iglesias e Miguel Santos, e o lançamento de sua biografia, baseada no monólogo “Autobiografia autorizada”. (Felipe Shikama)
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