Poeta americana Louise Glück afasta as polêmicas de prêmio
Em busca de pacificação após anos conturbados, o Prêmio Nobel de Literatura anunciou ontem a poeta americana Louise Glück, de 77 anos, como a laureada de 2020. Sua obra é inédita em livro no Brasil. Ela foi escolhida “por sua voz poética inconfundível que, com beleza austera, faz universal a existência individual.”
Em uma ligação gravada e divulgada pelo comitê do Nobel, feita minutos após o anúncio, Glück disse que não fazia ideia o que o prêmio significava para ela, e foi bem-humorada. “Meu primeiro pensamento foi que não teria mais amigos, porque todos eles são escritores”, disse. “É uma grande honra. Há, claro, outros laureados que não admiro, mas então penso nos que admiro, inclusive alguns muito recentes. De maneira prática, eu queria comprar uma nova casa em Vermont, e agora talvez seja possível. Estou mais preocupada com a preservação da vida cotidiana das pessoas que amo. O telefone está tocando o tempo todo.” Em seguida, ela pede para desligar e diz que onde está ainda não eram nem sete horas da manhã. “Preciso de um café.”
Glück nasceu em 1943 em Nova York, e atualmente vive em Cambridge. Além de escritora, é professora na Universidade de Yale e já era reconhecida como uma das poetas mais importantes dos Estados Unidos.
Ela estreou na poesia em 1968, com o livro “Firstborn”, e entre outros prêmios importantes também levou o Pulitzer e o National Book Award, em 2014. Louise Glück publicou doze coleções de poesia e alguns volumes de ensaios sobre o assunto. De acordo com a Academia Sueca, seu trabalho é caracterizado por uma busca pela clareza. Ao compará-la com outras autoras, a instituição disse que Glück lembra a poeta do século 19 Emily Dickinson na sua “severidade e falta de vontade de aceitar princípios simples de fé”.
O caráter às vezes bem-humorado e mordaz dos poemas também foi destacado pelo comitê.
“O leitor é atingido pela presença da voz e Glück se aproxima do ‘motif’ da morte com graça e leveza irreparáveis”, diz o comunicado da Academia. “Ela escreve poesia narrativa e onírica, relembrando viagens e memórias, apenas para hesitar e pausar para novas intuições. O mundo é emancipado, apenas para magicamente se tornar presente mais uma vez.”
A professora associada da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Erica McAlpine, disse que Glück “conseguiu se tornar urgentemente contemporânea, mas simultaneamente atemporal”. “A ocasional desolação da sua voz fala especialmente bem ao nosso momento presente.” (Guilherme Sobota - Estadão Conteúdo)