Secretário fala dos novos desafios da Cultura em Sorocaba
Encontrar soluções criativas para garantir a fruição das atividades culturais e artísticas em Sorocaba, em meio à pandemia, e preparar os próprios da Secretaria da Cultura (Secult) para receber o público na retomada após vacinação são alguns dos desafios de Luiz Antonio Zamuner, novo titular da pasta.
O novo secretário também pretende levar para a gestão pública a expertise da área de formação cultural -- tanto de plateia quanto de músicos -- acumulada ao longo dos anos em que foi diretor e presidente da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec).
Essa experiência, a propósito, foi o que motivou o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), a nomeá-lo no dia 1º de janeiro como titular da pasta. “Sinto-me honrado pela oportunidade, pois tenho boa vontade de ajudar”, comenta Zamuner.
Como é praxe há pelo menos uma década, o Mais Cruzeiro publica entrevista com o novo titular da pasta para falar sobre os planos e desafios para a área cultural da cidade.
Há menos de 15 dias no cargo, Zamuner recebeu a reportagem na Casa 52, sede da Secult, na quarta-feira (13) e, por quase duas horas, falou sobre os desafios que terá à frente do cargo e seu estilo de trabalho. “Estou aberto ao diálogo e a boas ideias. Quero ouvir todo mundo”, destaca.
O secretário revela que o principal pedido de Manga ao convidá-lo para comandar a pasta foi para que as atenções se voltassem para a cultura nos bairros.
Relembrando o pensamento do intelectual Alfredo Bosi, que distingue a cultura de massa da cultura popular e da cultura erudita, o novo secretário afirma, além de promover a descentralização das atividades de formação e fruição, que pretende criar políticas que deem oportunidades para a população, especialmente da periferia, de fortalecer sua própria cultura popular e de experimentar a chamada cultura erudita.
“O baile funk, que sabemos que existe, é uma cultura de massa; mas é justo que um jovem tenha ao menos a opção, a oportunidade, de experimentar outra coisa. Por que ele não pode, também, ter acesso a um quarteto de cordas e se emocionar?”, questiona.
Antes de começar a entrevista, o novo secretário fez questão de apresentar ao repórter o Jardim Maylasky, área na região central que, além da Casa 52, também abriga o Museu da Estrada de Ferro Sorocabana e o Chalé Francês, sede da Pinacoteca Municipal.
“A primeira coisa que fiz foi mandar cortar todo o mato que estava alto”, revela, mostrando, ainda, marcas do tempo que clamam por reforma e manutenção. “Tem muita coisa urgente para ser feita e tem coisa que é mais demorada. Eu espero ter tempo de fazer, porque vontade e disposição de ajudar não faltam”, confessa.
A secretaria
Ao mesmo tempo em que “toma pé” da situação da secretaria, que possui 76 funcionários e, em 2021, terá orçamento de R$ 9,6 milhões, Zamuner, desde que assumiu, vem realizando visitas e produzindo relatórios sobre os 15 próprios de responsabilidade da pasta.
“Os que mais me alegraram foram o CEU das Artes [no Parque das Laranjeiras] e a Biblioteca Infantil Municipal”, comenta, admitindo que o Teatro Municipal Teotônio Vilela (TMTV) está sem rider técnico, de som e luz, e a Biblioteca Jorge Guilherme Senger sofre com goteiras e infiltrações.
Cirurgião dentista por formação, Zamuner é músico amador (possui ouvido absoluto e toca violão e piano) e amante das artes em geral. Isso o levou à diretoria da Fundec, onde ocupou os postos de vice-presidente, primeiro secretário, diretor técnico a até presidente por duas gestões (2016-2017 e 2018-2019).
Pesquisador sobre vida e obra de artistas de diferentes expressões, épocas e estilos, que vão de João Gilberto a Racionais MC’s, passando por Beethoven, Zamuner também é conselheiro consultivo do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs) e frequentador assíduo de espaços de efervescência cultural da cidade como o Sesc e a Feira do Beco do Inferno.
O novo secretário reconhece as dificuldades que boa parte da classe artística e dos profissionais da cultura vem passando em função da pandemia e admite que o poder público pode desenvolver ações, como editais de fomento, para auxiliar esses profissionais atingidos por conta da crise.
“Se não pudermos realizar de maneira presencial, queremos realizar todos os eventos que a lei permite [como o Festival Tropeiro de Teatro e a Semana Municipal do Hip Hop] pela internet”, comenta.
Conferência municipal
Caberá, ainda, à gestão de Zamuner, promover a Conferência Municipal de Cultura, inicialmente prevista para ocorrer em 2020, mas que acabou sendo adiada por causa da pandemia.
De acordo com o Sistema Nacional de Cultura, a conferência faz-se necessária para que poder público e sociedade civil realizem o processo de revisão do Plano Municipal de Cultura (PMC), sancionado em 2015.
Segundo Zamuner, que participou da elaboração do plano, quando era diretor da Fundec, o PMC é positivo, mas traz metas audaciosas, muitas vezes, com prazos inexequíveis.
“É melhor ter um plano mais realista e possível de ser cumprido do que uma peça de ficção. O plano, no papel, é bonito, mas faltou combinar com os russos”, diz.
Zamuner acrescenta que também pretende retomar a articulação junto ao governo estadual, para viabilizar a reforma da antiga Oficina Cultural Grande Otelo, e também ao governo federal.
Nos próximos meses, ele deve ir a Brasília para buscar recursos junto a representantes da Funarte e da Secretaria Especial da Cultura. (Felipe Shikama)