‘A fera na selva’ é um sonho de mais de três décadas, diz Eliane Giardini

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Obra do britânico Henry James encantou a atriz sorocabana. “Foi um choque de realidade para mim”, disse Eliane. Crédito da foto: Divulgação

Com o passar do tempo, o sonho de Eliane se tornou também o sonho de Paulo Betti, que se encarregou de levar o projeto adiante. Crédito da foto: Divulgação

Em 1988 a atriz sorocabana Eliane Giardini entrou numa livraria e se deparou com o livro “A fera na selva”, do britânico Henry James, escritor britânico que ela nunca tinha ouvido falar. As breves palavras do texto da “orelha” da novela de 1903 a convenceram a levá-lo para a casa.

A leitura da obra, naquela mesma noite, chuvosa, mudaria a sua vida. “Foi um choque de realidade para mim, porque fala da angústia da finitude e do desaparecimento. Isso me pegou muito e fiquei apaixonada pela história”, comenta a atriz.

Vinte e um anos depois, Eliane Giardini divide com Paulo Betti a direção e o papel de protagonistas do filme “A fera na selva”, que entrou em cartaz nesta semana em Sorocaba (na sala 7 do Sorocaba Shopping). Baseado livremente na obra homônima de James, o filme narra a história de um homem que vive na esperança de presenciar em algum momento de sua vida um acontecimento extraordinário, sem enxergar as pequenas maravilhas de seu cotidiano.

Adaptação

Em entrevista ao Mais Cruzeiro, por telefone, Eliane comenta que, ao terminar a leitura, já madrugada adentro, tinha claro o desejo de apresentar essa história ao público. Decidida, ela chegou a iniciar a adaptação para o teatro, mas precisou interromper a tarefa ao descobrir a existência de outra adaptação da dramaturga francesa Margueritte Duras.

Depois, com tradução de Geraldo Carneiro, e tendo José Wilker como diretor convidado, os ensaios precisaram ser interrompidos em virtude do adoecimento do ator Carlos Augusto Strazzer. Ele faleceria em 1993.

No mesmo ano, finalmente, ao lado de Paulo Betti, Eliane estreava “A fera na selva” nos palcos do Rio de Janeiro, com direção de Luiz Arthur Nunes. “E era uma história que eu conseguia visualizar muito facilmente. O Henry James tem um talento imenso com a palavra e eu imaginei que daria um filme bonito. A gente até tentou”, relembra.

Longa-metragem

A primeira tentativa de transformar “A fera na selva” em longa-metragem foi liderada por Wilker. Isso ocorreu numa co-produção com Portugal que, por razões de ordem burocrática, nunca se concretizou.

Obra do britânico Henry James encantou a atriz sorocabana. “Foi um choque de realidade para mim”, disse Eliane. Crédito da foto: Divulgação

Com o passar do tempo, o sonho de Eliane se tornou também o sonho de Paulo Betti, que se encarregou de levar o projeto adiante. “Ele tocou o projeto inteiro, mas teve essa generosidade de me colocar [na ficha técnica] como diretora”, comenta.

Diferenças

Mas, que diferenças fundamentais há entre contar essa história no teatro e no cinema? “No teatro era mais fácil fazer essa adaptação porque o teatro vive das palavras e do que essas palavras evocam, no cinema havia a necessidade do visual, a fotografia, e o texto do Henry James é muito ‘palavroso’”, afirma.

Na montagem teatral dirigida por Luiz Arthur Nunes, os próprios atores também alternavam o papel de narrador. No filme, a narração é representada pela voz de José Mayer.

O texto “palavroso” de James, rico na descrição de paisagens e sentimentos, esbarra em temas universais como a passagem de tempo, a solidão, a morte e o amor, que poderiam ser ambientados em qualquer lugar do mundo. Mas Sorocaba, para Eliane, tem contornos afetivos especiais. “Isso trouxe um mergulho que é imaterial, que acrescentou uma camada significativa para o filme. Eu e o Paulo nos conhecemos em Sorocaba e temos família em Sorocaba. Quisemos fazer dessa geografia um componente afetivo que tem significado muito forte e emocionante para nós”, conclui. (Felipe Shikama)

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