‘Valsa nº 6’, de Nelson Rodrigues, estreia no Teatro Municipal

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Peça é interpretada pelo ator sorocabano Gui Miralha como parte do projeto “Quem é Sônia?”. Crédito da foto: Marcelo Marques / Divulgação

Peça é interpretada pelo ator sorocabano Gui Miralha como parte do projeto “Quem é Sônia?”. Crédito da foto: Marceli Marques / Divulgação

Monólogo que narra a história de uma adolescente que tenta resgatar as lembranças do dia em que foi estuprada e assassinada, “Valsa nº6”, escrito por Nelson Rodrigues em 1951, permanece atual frente às alarmantes estatísticas de casos de estupro e feminicídio registrados no Brasil. Interpretada pelo ator sorocabano Gui Miralha e revisitada com olhar contemporâneo com direção de Ângela Barros, que também lança luz ao genocídio contra a população LGBT, “Valsa nº6” estreia nesta sexta (5), às 19h, com reapresentação às 20h30, no Teatro Municipal Teotônio Vilela (TMTV).

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A temporada prossegue sábado (6) e domingo (7) e nos dias 14 e 21 de julho, sempre às 19h e 20h30, com entrada gratuita. Todas as sessões contam com intérpretes de Libras e os ingressos serão distribuídos com uma hora de antecedência na bilheteria do TMTV.

A temporada faz parte do projeto “Quem é Sônia?”, idealizado por Gui Miralha, contemplado no edital de 2018 da Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba (Linc), que possibilitou a criação da Estação Plínio Nelson que, diferentemente de uma companhia de teatro convencional, é definida pelo jovem artista como “lugar de encontros, passagens e despedidas”, voltado à interseção de pesquisas sobre a obra de seus dois dramaturgos favoritos: Plínio Marcos e Nelson Rodrigues. “A ideia é poder trabalhar com outros diretores e envolver mais atores, sem necessariamente ter de se tornar um grupo fixo”, comenta o ator, que completa 26 anos na próxima semana.

A ideia de resgatar o texto de “Valsa nº6”, décimo espetáculo de Nelson Rodrigues, escrito para estreia de sua irmã Dulce Rodrigues no teatro, nasceu da constatação de que a tenebrosa história de feminicídio infelizmente continua atual. “É um tema super urgente. As estatísticas apontam números assustadores de mulheres estupradas e assassinadas a cada hora no País”, comenta o ator.

Também pesquisador de questões ligadas à identidade de gênero não-binário, Miralha e a diretora Ângela Barros decidiram trazer a peça para o século 21, dentro de uma encenação cuidadosa, precisa e urgente, que ocorre por meio da interpretação de uma figura andrógina, com o intuito de atravessar espaços para trazer à tona debates sociais. “Como não me identifico [como binário], sempre me atrelo a personagens que estão no campo da delicadeza e do feminino. Muitas vezes interpreto papéis que são destinados à mulher”, diz.

Apesar de abordar temas socialmente densos, o ator ressalta que a dramaturgia da peça de uma hora de duração foi mantida em seu estado original -- e preserva sua leveza poética do início ao fim. “É quase um poema e trata do assunto de forma muito leve e sutil”, complementa. A classificação indicativa do espetáculo é de 14 anos.

O nome do projeto contemplado no edital da Linc, “Quem é Sônia”, faz alusão à personagem central do monólogo e sugere um exercício de reflexão e empatia em relação às vítimas de violência. “O questionamento principal do espetáculo é visibilizar quem são essas pessoas, que estão sendo assassinadas e que a sociedade finge não ver”, acrescenta o ator.

Gui Miralha revela que ser dirigido pela sorocabana Ângela Barros é a realização de um sonho antigo, já que desde seus primeiros passos no teatro -- começou a atuar aos 9 anos -- ouvia apenas elogios da premiada artista, formada na Escola de Artes Dramáticas da USP e responsável pela direção das peças de destaque como “Frank V” e “Não flor não fera”, que teve no elenco atores como Letícia Sabatella e Marcos Azzini. “Primeiramente foi uma honra muito grande. Ela é muito competente e generosa, se debruçou com toda experiência no projeto, para poder tirar tudo de mim, já que ‘Valsa nº6’ não é apenas um dos espetáculos mais difíceis do repertório do Nelson Rodrigues, mas de todo o teatro brasileiro”, diz. Os ensaios ocorreram ao longo de quatro meses, duas vezes por semana.

Paralelamente à montagem de “Valsa nº 6”, o projeto “Quem é Sônia” contemplou em abril a realização de uma oficina de pequenos solos, ministrada pela atriz profissional e arte-educadora Daniele Silva e que teve como encerramento uma mostra com os experimentos cênicos de cenas curtas escritos e interpretados pelos próprios participantes. (Felipe Shikama)

Serviço

“Valsa nº6”

Sexta (5), amanhã (6) e domingo (7), além de 14 e 21 de julho

Às 19h e 20h30

TMTV (avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, s/n, Alto da Boa Vista)

Entrada gratuita (os ingressos serão distribuídos no local com uma hora de antecedência)