Bolsa fecha em baixa de 1,53%, com perda de 3,08% na semana
A semana chega ao fim com a notícia de que o presidente dos EUA, Donald Trump, está com coronavírus a um mês da eleição, o que pode não apenas embaralhar o cenário para 3 de novembro, mas também a definição de novo pacote fiscal no Congresso. Assim, desde cedo, a sexta-feira (2) foi de aversão a risco em Nova York e também na B3, onde o Ibovespa fechou em baixa de 1,53%, aos 94.015,68 pontos, tendo oscilado entre mínima de 93.896,61 e máxima de 95.995,70 pontos, uma variação de cerca de 2.100 pontos do piso ao teto da sessão.
Na semana, o Ibovespa acumulou perda de 3,08% e, nestes dois primeiros dias de outubro, de 0,62% - no ano, o índice cede 18,70%. Com a quinta perda semanal consecutiva, o índice iguala agora a sequência negativa do auge da crise da pandemia, entre 17 de fevereiro e 20 de março, embora naquele intervalo as perdas tenham sido incomparavelmente superiores, chegando a 18,88% no trecho final de cinco sessões. O giro financeiro desta sexta-feira totalizou R$ 23,1 bilhões.
"Parecia que ia ser o caos, mas lá fora acabou limitando um pouco. Aqui, com queda acima de 4% nos preços da commodity, não foi possível à Petrobras dar sequência à boa repercussão da decisão do STF sobre o plano de vendas de refinarias, confirmada depois do fechamento de quinta-feira. Mas, hoje, o noticiário favorável aos bancos, sobre compulsório e consignado, contribuiu para que o setor fosse um bom contrapeso ao desempenho ruim de Petrobras na sessão", diz Ari Santos, operador de renda variável da Commcor.
A notícia de que Trump e Melania estão com Covid-19, e passam bem, foi anunciada no fim da noite de quinta-feira, em post do presidente no Twitter. "Com 32 dias para a eleição, o presidente terá que entrar em quarentena", escreveu em nota Edward Moya, analista de mercado financeiro da OANDA em Nova York, acrescentando que o vice, Mike Pence, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, testaram negativo, o que não alivia o temor de que autoridades venham também a desenvolver a doença, afetando a linha de comando. "O presidente é considerado por muitos como de alto risco, podendo ter uma chance em três de hospitalização e complicações devido à sua idade e peso", acrescenta o analista.
Ainda que Trump permaneça com sintomas leves, é improvável que haja tempo para que retome agenda eleitoral em alta intensidade após o período de afastamento. No meio da tarde, a campanha à reeleição confirmou que todos os eventos serão adiados.
Em outro desdobramento negativo, um senador republicano, Mike Lee, foi diagnosticado, o que alimenta o receio de que outros congressistas venham a apresentar sintomas da doença, no momento em que o Capitólio busca solução para renovação de apoio às folhas de salário e suporte a setores como o de aviação civil. Tal combinação de notícias deixou em segundo plano dados econômicos de peso, divulgados nesta sexta-feira, como a geração de vagas de trabalho nos EUA em setembro, em desaceleração, e o índice de confiança do consumidor americano, em recuperação.
No Brasil, segue de pé o propósito do governo de levar adiante o Renda Cidadã da forma que vier a se mostrar possível, o que mantém em cima da mesa o receio do mercado quanto à preservação do teto de gastos, após o mal-estar do início da semana com a referência a precatórios e Fundeb como fontes de financiamento. A combinação de tantos fatores negativos nesta última sessão da semana resultou em elevação do dólar, inclinação dos juros e perdas para o Ibovespa, ainda que relativamente moderadas.
A cizânia entre os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) reapareceu perto do fechamento. "Se Marinho falou mal, é despreparado e fura-teto", disse Guedes, após relatos de que o colega de ministério teria feito críticas à equipe econômica em teleconferência com agentes de mercado, na qual teria indicado que o Renda Cidadã será lançado, de um jeito ou de outro. Nesta semana, Guedes também voltou a entrar em choque com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Apesar do clima azedo, quando as novas declarações de Guedes vieram a público, as perdas do Ibovespa já estavam na casa de 1,4%.
Na B3, em dia de queda aguda do petróleo, a correção em Petrobras (PN -4,18% e ON -3,86%) foi contrabalançada pelo desempenho positivo de bancos, segmento de maior peso na composição do Ibovespa. Principais retardatárias no ano, as ações do setor foram beneficiadas nesta sexta-feira por dois fatores: a ampliação de 35% para 40% na fatia do benefício de aposentados e pensionistas do INSS que pode ser comprometida em empréstimos consignados, e a decisão do BC de prorrogar até abril de 2021 a vigência da alíquota temporária de 17% dos compulsórios sobre recursos a prazo.
Assim, destaque para a alta de 1,79% na Unit do Santander (maior do Ibovespa na sessão) e de 0,82% para Bradesco PN, ambas limitando ganhos no fechamento. No lado oposto do índice, Azul cedeu hoje 5,56%, seguida por CVC (-5,28%) e Magazine Luiza (-4,19%). (Estadão Conteúdo)