Bolsa fecha em leve alta de 0,31%, após duas perdas seguidas

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Fachada do prédio da Bolsa de Valores de São Paulo. Crédito da foto: Hugo Arce / FP (5/1/2014)

Com Nova York também revertendo a terreno positivo no meio da tarde, o Ibovespa conseguiu neutralizar as leves perdas observadas mais cedo e fechar o dia em alta, após duas quedas consecutivas, de 1,32% e 1,81%, nas sessões anteriores. Nesta terça-feira (22), o índice de referência da B3 fechou em alta de 0,31%, a 97.293,54 pontos, tendo oscilado entre mínima de 96 390,28 e máxima de 97.684,16 pontos, saindo de 96.994,52 pontos na abertura. O giro financeiro, enfraquecido, totalizou R$ 20,1 bilhões na sessão.

Apesar da perda de força em direção ao encerramento, a recuperação observada nesta tarde chegou a ser puxada pelo setor de siderurgia, em especial CSN (+3,39%), na ponta do Ibovespa no fechamento, logo abaixo de MRV (+3,73%) e IRB (+6,28%). As ações de commodities e de bancos também ensaiaram desempenho positivo, mas também limitaram ou devolveram ganhos perto do fim, com Petrobras ON em baixa de 0,05% e a PN, de 0,48%, enquanto Vale ON conseguiu sustentar leve alta de 0,12% no encerramento.

O setor de bancos fechou no azul, à exceção de BB ON (-0,19%), com destaque para Bradesco ON (+1,03%). No lado oposto do Ibovespa, B2W, que havia sido a maior alta do dia anterior, fechou hoje em baixa de 3,80%, seguida por Embraer (-2,83%), entre as maiores perdedoras pelo segundo dia seguido, Suzano (-2,39%) e JBS (-2,13%).

Conforme observa Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti, após a aversão a risco global ter afetado ontem em especial "nomes de beta mais alto, mais arriscados", como Gol, Azul e CVC, as três empresas tiveram desempenho misto nesta terça-feira, com CVC em baixa de 1,94% e Gol, de 1,20%, enquanto Azul conseguiu leve recuperação, em alta de 1,04% no fechamento desta terça-feira. "Os riscos que provocaram as vendas (ontem) vieram de um possível novo lockdown no Reino Unido, com a escalada de novos casos de coronavírus, enquanto Madri limitou o deslocamento de 850 mil moradores, só permitindo que eles saiam de casa para trabalhar, ir ao médico ou levar filhos à escola", aponta a analista.

Mais cedo, o presidente da CVC, Leonel Andrade, afirmou, durante live promovida pelo jornal O Tempo, que os preços do turismo estão 25% a 30% mais baixos do que no ano passado e "só teremos um ano cheio no turismo novamente em 2023".

Além dos sinais de retomada da pandemia nesta virada de verão para outono no Hemisfério Norte, incertezas relacionadas à situação fiscal no Brasil, a denúncia de lavagem de dinheiro em grandes bancos globais e a proximidade da eleição americana contribuem para moderar o apetite por risco, limitando o potencial de recuperação do Ibovespa, que caminha até aqui para novo mês de perdas - em setembro, cede 2,09%, após recuo de 3,44% em agosto, quando foi interrompida a reação iniciada em abril. As perdas no ano chegam agora a 15,87% - na semana, o índice cede 1,01%.

"O Ibovespa segue sem uma definição clara, mesmo com o resultado de ontem, no qual a Bolsa perdeu o suporte de 97 mil pontos. Mas como o índice permanece muito próximo desse ponto, não temos ainda um rompimento confirmado", diz Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora. "Caso o Ibovespa fique abaixo do patamar registrado ontem, de 96 mil pontos, podemos começar a pensar no novo suporte de 92 mil pontos. Caso faça o movimento de subida, precisará ultrapassar os 103 mil pontos para retomar a tendência de alta", acrescenta o analista, para quem "os indicadores técnicos ainda mostram movimento mais propenso à compra do que venda". Segundo Góes, há uma "falta de velocidade nesta queda", na medida em que se veem "setores intercalando altas e quedas", com o mercado ainda "lateralizado".

Pelo lado dos fundamentos, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) disse hoje que o Brasil respondeu à crise da covid-19 com "uma grande expansão fiscal", maior do que outros emergentes e comparável a alguns desenvolvidos. Em relatório, o IIF observa que a expansão fiscal é positiva para a recuperação no curto prazo, mas traz dois desafios: o de recuar nos gastos emergenciais para cumprir a regra fiscal; e o financiamento de um grande déficit fiscal no momento em que todos os países têm emitido muitos bônus.

Discurso na ONU

Em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a apontar para uma "campanha de desinformação", direcionada ao competitivo agronegócio brasileiro, como fator oculto na atenção internacional aos incêndios e desmatamento em biomas do País, como o Pantanal e a Amazônia. Apesar da importância da questão, o assunto permanece como pano de fundo para os investidores, mais suscetíveis ao endividamento público e à situação econômica em meio à pandemia.

Em Nova York, a reação inicialmente fria ao testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Congresso, no sentido de que "mais estímulos fiscais e monetários serão necessários para a economia", deu lugar a uma relativa animação liderada pelas ações de tecnologia, o que contribuiu para romper uma sequência de quatro quedas, aponta em nota Edward Moya, analista de mercado financeiro da OANDA em Nova York. A virada em NY contribuiu para que o Ibovespa se firmasse em terreno positivo até o fim da sessão, após ter hesitado entre leves ganhos e perdas, bem perto da estabilidade. Em Nova York, o Nasdaq fechou o dia em alta de 1,71% e o S&P 500, de 1,05%. (Estadão Conteúdo)