IPCA vai a 0,86% e mercado vê alta da Selic

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Em agosto, puxada pelos combustíveis, a inflação subiu 0,87%, a maior inflação para o mês desde o ano 2000.

Aumento da gasolina pesou na inflação oficial de fevereiro. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (4/6/2018)

Pressionada desta vez pelos preços da gasolina, a inflação oficial no País subiu 0,86% em fevereiro, ante 0,25% em janeiro. Foi a maior variação para o período desde 2016 e consolidou as apostas no mercado financeiro de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que se reúne na próxima semana, vai voltar a aumentar a taxa básica de juros. A Selic está hoje em 2%, menor patamar histórico.

Pelos números divulgados ontem pelo IBGE, a taxa acumulada em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de 4,56%, em janeiro, para 5,20% no mês passado, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo BC para este ano. No mesmo período, só os preços dos alimentos e bebidas acumularam uma alta de 15%.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, aposta que a Selic será elevada dos atuais 2% ao ano para 2,50%. “Realmente, o IPCA veio bem acima do esperado, mostrando forte aceleração. A boa noticia é que o movimento de alta da inflação continua concentrado em alguns itens”, disse Rostagno. “Então, não há alta generalizada de preços no País. Mas, como a gente está com uma inflação corrente bem acima do centro da meta, e como a gente tem visto alta forte do petróleo e o real se desvalorizando, o BC vai promover alta de juros para evitar que efeitos de segunda ordem potenciais sobre os preços possam ocorrer e, com isso, desancorar as expectativas de inflação.”

Já havia a expectativa de que o Copom pudesse elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual, de acordo com a economista-chefe da gestora de recursos BNP Asset Management, Tatiana Pinheiro, mas a inflação de fevereiro, ainda que fortemente concentrada em combustíveis, deflagra uma pressão de custos para a qual o BC está atento. Pesa também a piora do quadro fiscal.

A pressão inflacionária em fevereiro só não foi mais forte porque o fim do pagamento do auxílio emergencial pelo governo às famílias mais vulneráveis já diminuiu a demanda por itens essenciais, com reflexo sobre os preços dos alimentos, que têm dado uma trégua após meses de altas expressivas, avaliou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

“A retirada do auxílio pode ter reduzido a demanda por alguns itens essenciais, como é o caso do arroz. Há uma série de fatores que vão influenciar o preço dos alimentos, o auxílio emergencial é apenas um deles”, ponderou.

O grupo alimentação e bebidas mostrou desaceleração em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo. Houve redução nos preços da batata, tomate, leite longa vida, óleo de soja e arroz.

Por outro lado, houve aumento de preços na cebola e nas carnes, mas foram os avanços nos preços dos combustíveis que mais pesaram na inflação em fevereiro. “A gente tem tido vários sucessivos reajustes nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, o que acaba chegando ao consumidor final”, observou Kislanov.

A gasolina subiu 7,11% em fevereiro, sendo responsável sozinha por mais de 40% do IPCA. Também ficaram mais caros o etanol (8,06%), óleo diesel (5,40%) e gás veicular (0,69%).

Apesar da pressão sobre o orçamento das famílias, o economista do IBGE ainda não vê sinais de influência de demanda sobre a inflação. (Daniela Amorim, Francisco Carlos de Assis e Luciana Xavier - Estadão Conteúdo)