Lojas de material de construção perdem faturamento
As lojas de materiais de construção mais cheias nas últimas semanas não refletem a situação de faturamento do setor que sobrevive atualmente dos reparos que os clientes se viram obrigados a fazer em casa, devido à quarentena. “Se você fica em casa, vai ter de fazer alguns consertos, vai ver que a tinta está descascando. Não vai adiar para arrumar um vazamento na cozinha. Como conseguimos manter as lojas abertas, as pessoas estão fazendo essas compras. Isso ajudou a amenizar as perdas de maio”, diz Rodrigo Navarro, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
O setor, porém, deve ter no mês de maio uma queda de 24,8% no faturamento em relação ao mesmo período de 2019. A projeção é do Índice Abramat, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O mesmo índice aponta que, em abril, a queda real foi de 33,7%.
Os dois números negativos de faturamento -- tanto a projeção de maio quanto o número real de abril -- são os piores já registrados na série histórica, que começou em 2006.
Se considerado o acumulado de janeiro até a projeção para o mês de maio, 2020 já registra queda de 13,3%. Em 5 meses, o ano encostou em 2016, que foi o fundo do poço para as empresas do ramo, com queda de 13,5% no faturamento.
“Temos cerca de 6 meses para fazer com que 2020 não fique no patamar de 2016. Para isso, trabalhamos para que a indústria e a construção fossem reconhecidas como serviços essenciais. Buscamos crédito, o que deve melhorar com a aprovação das garantias do governo e apoiamos a questão do novo marco regulatório de saneamento básico”, diz Navarro. Mesmo com todos esses esforços, porém, ele admite que a projeção anterior de crescimento de 4% para o ano já não é mais factível.
Na prática, as maiores expectativas da instituição para reverter as perdas do primeiro semestre ainda não foram concretizadas. As garantias para melhorar a oferta de crédito -- como o Fundo Garantidor de Operações e o Fundo Garantidor de Investimentos -- ainda não foram disponibilizadas. Da mesma forma, o marco regulatório para o saneamento segue em tramitação da Câmara com discussões a distância.
“Estávamos em um ciclo positivo. Invertemos a curva em 2018, com crescimento de 1%, subimos mais 1,6% em 2019 e projetávamos chegar a 4% em 2020. Estamos revendo esse número agora, com muito cuidado”, diz o presidente. Em sua avaliação, a crise econômica, com efeitos sobre a renda dos brasileiros, é uma preocupação legítima em relação ao desempenho do setor. (Talita Nascimento - Estadão Conteúdo)