País nunca teve tantos fora do mercado de trabalho
A pandemia do novo coronavírus provocou uma destruição massiva de postos de trabalho. No trimestre em que a crise sanitária se agravou no País, de março a maio, 7,8 milhões de pessoas perderam o emprego. E, pela primeira vez, mais da metade da população brasileira em idade de trabalhar não tem nenhuma ocupação, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“É muito ruim para o País, porque demonstra que o nível de atividade caiu substancialmente. Por consequência, a recuperação fica comprometida e, quando vier a se iniciar, ela virá de maneira lenta. No médio e longo prazos, isso vai requerer das pessoas que comecem a desenvolver atividades de maneira cooperativa, cooperativas de trabalho”, resumiu Silvio Paixão, professor de Macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), ligada à Universidade de São Paulo (USP), que espera uma retração de pelo menos 10% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020.
Atualmente, há mais gente fora do mercado de trabalho e desempregada -- um total de 87,7 milhões de brasileiros -- do que trabalhando. Nessa conta, além dos que procuram vagas e não encontram, entram todos os maiores de 14 anos que podiam estar trabalhando, desde os desalentados a estudantes ou donas de casa. Já a população ocupada desceu a 85,9 milhões de pessoas, a menor da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. “É o pior momento em termos de pessoas fora do mercado de trabalho”, disse Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
As demissões no trimestre foram recordes em oito dos dez grupos de atividades econômicas, superando a barreira do milhão na indústria, construção, serviços domésticos e alojamento e alimentação. No comércio, foram dispensados quase 2 milhões de trabalhadores.
Informalidade
Em apenas um trimestre, mais de 2,5 milhões de vagas com carteira assinada foram extintas, mas os mais afetados foram os trabalhadores que atuam na informalidade, quase 5,8 milhões de pessoas que atuavam nessa condição perderam sua ocupação em meio à pandemia. Como consequência, quase R$ 11 bilhões em remunerações de trabalhadores deixaram de circular na economia entre os meses de março e maio. (Daniela Amorim e Thaís Barcellos - Estadão Conteúdo)