Sorocaba perde 6 mil empregos em dois meses

Por

Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS (6/5/2020)

Lojas fechadas: Caged não divulgou demissões na cidade por setor, como comércio. Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS (6/5/2020)

A pandemia do novo coronavírus foi a principal causa para o fechamento de 6.234 vagas de trabalho com carteira assinada em Sorocaba, em março e abril, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério da Economia.

Somente em abril, foram fechados 4.797 postos na cidade, que havia iniciado o ano com saldo de 187.180 empregos formais. No País, o número o saldo de abril foi negativo em 860.503 vagas.

Em março, diante dos primeiros sinais de retração da atividade econômica provocados pela pandemia, foram cortados 1.437 empregos em Sorocaba, invertendo a curva de carteira assinada, que vinha numa ascendente nos dois primeiros meses. Em janeiro foram gerados 1.195 novos postos de trabalho e 382 em fevereiro. “A cidade, assim como todo o País, vinha numa recuperação lenta, mas a pandemia interrompeu esse crescimento”, diz o economista Geraldo Almeida.

Essa é a primeira vez que o governo federal divulga dados sobre empregos formais relativos ao ano de 2020. Desde dezembro do ano passado, a divulgação do Caged estava suspensa, sob a alegação de “mudanças no sistema”.

Chamado pelo Ministério da Economia de “Novo Caged”, os dados agora são disponibilizados em um arquivo de Excel disponível no site http://pdet.mte.gov.br com apenas oito tabelas. O novo relatório, diferentemente da plataforma anterior, não permite o cruzamento de dados mais detalhados, como o número de desempregados em determinada cidade em cada um dos setores da economia como comércio, serviços, indústria, construção civil e agricultura.

“Essa falta de transparência impede olhar para cada setor, inclusive para orientar políticas públicas e definir ações setoriais, identificar a mão de obra disponível, ver que setor precisa de mais qualificação e onde estão as vagas para que a pessoas desempregadas ingressem no mercado de trabalho. A informação é muito importante, ainda mais nesse momento sensível, que todo mundo está precisando”, comenta Almeida. Na mesma linha, o também economista Marcos Canhada lamentou a ausência dos dados que, segundo ele, são fundamentais para o aprofundamento das análises. “Não sei as motivações, mas são dados importantes para serem excluídos do relatório. É a partir desse detalhamento que é possível traçar ações mais pontuais e precisas”, considera.

Sem o cruzamento dos dados, não é possível apontar quais os setores da economia mais demitiram na cidade. Canhada acredita que, independentes dos segmentos, a maior parte dos desligamentos ocorreu nas micro e pequenas empresas. “As grandes empresas tem um fôlego maior e consegue segurar por uns dois meses até tomar uma decisão (de demitir)”, diz.

Em valores nominais, o estado de São Paulo teve o pior desempenho do País, com saldo negativo de 260.902 postos de trabalho, seguido por Minas Gerais (-88.298), Rio de Janeiro (-83.626) e Rio Grande do Sul (-74.686). Segundo o Ministério da Economia, o saldo negativo dos empregos formais só não foi maior porque foi criado o Programa Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, conservado mais de 8,1 milhões de vagas no País. “Realmente, se não tivesse essa medida os números de desempregados seriam ainda maior”, observa Almeida.

Geraldo Almeida pondera que uma retomada gradual da atividade econômica não depende simplesmente da reabertura dos estabelecimentos e precisa ser impulsionada por pacote de ações governamentais. Canhada avalia que a desaceleração da economia, que é mundial, tende a provocar um “efeito cascata”, podendo afetar nos próximos meses setores empresas maiores. (Felipe Shikama)