Supermercados reduzem compras

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Exportações e do dólar estão entre motivos do aumento. Crédito da foto: Vinícius Fonseca / Arquivo JCS (4/9/2020)

Exportações e do dólar estão entre motivos do aumento. Crédito da foto: Vinícius Fonseca / Arquivo JCS (4/9/2020)

As redes de supermercados já travam uma queda de braço de mais de 15 dias com seus fornecedores. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, os supermercados têm represado suas compras e vendido seus estoques para tentar negociar preços menores. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) disse que orienta os associados a comprarem apenas o necessário.

“Nos últimos 15 a 20 dias o varejo está discutindo preço. A palavra certa é essa mesma: queda de braço”, diz Terra. A Apas prefere usar o termo “negociação”: “A Apas reitera que tem recomendado aos supermercados associados que continuem negociando com seus fornecedores e comprem somente a quantidade necessária para a reposição”, diz em comunicado.

Na prática, o que a reportagem já verificou foi a limitação de compras de produtos básicos em dois estabelecimentos da rede Extra, do Grupo GPA. Na unidade da rua Rêgo Freitas, na Vila Buarque, o limite era de 10 quilos de arroz por compra. Na avenida Itaquera, zona leste da capital paulista, o limite de arroz era o mesmo. Havia ainda o limite de cinco unidades de 900 ml de óleo. Nem o GPA, nem a Associação Brasileira de Supermercados quiseram comentar sobre o ocorrido.

Para Eduardo Terra, casos como este acontecem pelo fato dos varejistas não aceitarem o aumento de preços repassado pela cadeia fornecedora. “Como o aumento (nos preços dos fornecedores) é abrupto, há represamento da compra (dos varejistas). O varejo tenta postergar tabela de preços”, diz.

Os aumentos de preços dos alimentos neste momento ocorrem sobretudo por causa da desvalorização do real em relação ao dólar, que baliza os preços desses produtos no mercado internacional. Esse movimento também é impulsionado pela forte demanda externa por alimentos, sobretudo por parte da China.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Claudio Felisoni, os argumentos expostos pela Associação Brasileira de Supermercados em nota na última quinta-feira fazem sentido. Além da alta do dólar, a associação mencionou incentivos fiscais às exportações e o crescimento da demanda interna impulsionada pelo auxílio emergencial. “É um fato, mas vivemos uma economia de livre mercado, não há como controlar preços”, diz Felisoni.

O consultor de varejo e bens de consumo, Eugenio Foganholo, também acredita que essa negociação já nasce limitada, já que as questões que fazem os preços subirem são macroeconômicas. Ele também não vê possibilidades de ação do governo para resolver essa situação. “Não há solução governamental possível no livre mercado”, diz o consultor. (Talita Nascimento - Estadão Conteúdo)