Uniso: Pesquisadora estuda como melhorar tratamento a queimados

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A farmacêutica Karin dos Santos Proença Jodar, com a dissertação que desenvolveu sobre o tema. Foto: Paulo Ribeiro

A farmacêutica Karin dos Santos Proença Jodar, com a dissertação que desenvolveu sobre o tema. Foto: Paulo Ribeiro

Reportagem: Marcel Stefano

Cerca de um milhão de pessoas sofrem queimaduras todos os anos no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. As maiores vítimas são crianças e pessoas de baixa renda. Cerca de 100 mil buscam atendimento hospitalar todo ano e, desses, cerca de 2,5 mil morrem em decorrência direta ou indireta das lesões causadas. Entre 2013 e 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou a internação de mais de 15 mil casos de pacientes que sofreram queimaduras.

Foi pensando em como melhorar esses números e principalmente ajudar no tratamento mais eficaz dessas pessoas que a farmacêutica Karin dos Santos Proença Jodar realizou a pesquisa “Desenvolvimento e Caracterização de Hidrogel de Álcool Polivinílico (PVA) e Dextrana com sulfadiazina de prata para aplicação tópica”, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso).

“Pensei em fazer um tratamento igual a pomada, que usa a sulfadiazina de prata também, porém, que fosse mais fácil de aplicar e retirar.” Ela diz que, com o hidrogel, é possível aplicá-lo na ferida, onde o composto fica por um certo período, e depois é só retirá-lo, sem o problema de que o hidrogel fique aderido à ferida. “Toda ferida libera um exsudato, que é um líquido. E o hidrogel absorve esse exsudato. Então, vai absorver, deixar o meio úmido, o que favorece a cicatrização, e também não precisa ficar fazendo muitas trocas.” A pesquisadora esclarece que o produto analisado em sua pesquisa poderia ser aplicado em queimaduras de até 2º grau (dos três graus existentes).

Para sua pesquisa, Jodar usou o hidrogel, considerado um sistema de liberação controlada de fármaco para aplicação tópica. “Hidrogéis são redes tridimensionais de polímeros hidrofílicos que, em contato com a água, intumescem mantendo sua integridade estrutural. Assim, os hidrogéis são adequados como materiais para liberação controlada, uma vez que, ao intumescerem, podem liberar o fármaco por diversos mecanismos. Neste sentido, são de particular interesse no tratamento de feridas tópicas devido à sua baixa toxicidade, seu potencial de liberação prolongada de fármacos e sua capacidade de manter a ferida hidratada.”

Foram desenvolvidas 22 formulações, variando a concentração de polímeros, dextrana e método de reticulação, que é uma técnica de obtenção de hidrogéis por processos físicos ou químicos. As formulações passaram por diversas análises e testes. Jodar diz que sua maior dificuldade foi encontrar o composto ideal, a partir de tantos materiais disponíveis e tantas técnicas envolvidas. E chegou ao melhor resultado com a formulação nº 3, que teria menor custo relativo de produção, em comparação com outras fórmulas analisadas. Para colocar esse medicamento ao público final, segundo Jodar, seria necessária ainda a realização de testes de aplicação em animais e de estabilidade do composto, e análise de custos do processo industrial para fim de comercialização do produto em farmácias e uso da população.

A pesquisa faz parte de um estudo mais amplo, denominado “Sistemas de liberação modificada de fármacos antimicrobianos”, para a criação de medicamentos como menor frequência de administração e maior tolerância e adesão ao tratamento.

Texto elaborado com base na dissertação “Desenvolvimento e Caracterização de Hidrogel de PVA (Álcool Polivinílico) e Dextrana com Sulfadiazina de Prata para aplicação tópica”, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação da professora doutora Marta Maria Duarte Carvalho Vila e aprovada em 18 de dezembro de 2014. Acesse a pesquisa aqui.