Covid-19: A maior vitória de Paulo Roberto Santos
Os sintomas começaram brandos, no dia 14 de março, com cansaço e enjoo, mas depois de cinco dias, Paulo Roberto Santos, técnico do Santo André, acabou internado no hospital Samaritano, em Sorocaba, com complicações da Covid-19. Ele chegou a ter de 50 a 75% do pulmão comprometido, foi intubado e manteve-se consciente o tempo todo. Depois de 11 dias, recebeu alta e foi para casa no dia 1ª de abril, onde segue sua recuperação. Sua participação hoje, à beira do campo, comandando o Santo André diante do São Bento, dependerá de avaliação médica.
“Faço fisioterapia respiratória e para recuperar a massa muscular. Depois de 11 dias, perdi sete quilos, é muita coisa, mas estou muito bem, sem nenhuma reação contrária”, disse o técnico, que fez questão de agradecer à equipe do hospital. “Médicos, enfermeiros, todos que cuidaram de mim, vou levar para o resto da minha vida. Também agradeço muito os ex-dirigentes do São Bento, que estiveram praticamente o tempo todo comigo, ajudando minha família em casa”, ressaltou.
O treinador faz parte do grupo de risco da doença pela idade (60 anos) e pela uma cirurgia no coração à qual foi submetida em 2018. Ele acredita (mas não afirma) que foi infectado pelo coronavírus na concentração de um jogo do Paulistão. Os sintomas iniciais foram desânimo, corpo muito cansado e enjoo. Alguns dias depois, porém, em suas palavras, “estava entregue”.
Foi, então, que ele precisou ser internado e tentou se manter tranquilo, mesmo tendo sido, a vida toda, muito agitado. Com pacientes em estados piores ao seu redor, não tinha como não se lembrar da morte de amigos próximos, como o também treinador Marcelo Veiga. “Só passa coisa ruim na cabeça. A gente vem acompanhando essa pandemia por um ano. Pessoas mais próximas, do seu ramo do trabalho. Só treinadores, foram três ou quatro que foram embora, mas procurei me manter bem tranquilo, não me apavorar, me apegar muito a Deus. Sei que meus amigos e meus familiares oraram muito, os torcedores. O poder da oração e a fé que eu tinha me ajudaram muito”.
Paulo Roberto conta que teve três dias “muito terríveis” e em todos eles estava consciente do que acontecia. Outra força para que se curasse da doença veio das mensagens dos torcedores. Principalmente do São Bento, seu ex-clube. “Os torcedores do São Bento me mandaram mil mensagens, fizeram corrente. A gente não tem dimensão de certas coisas, mas, com a doença, eu vi muito claramente tudo. Nós tivemos muito carinho e apoio do pessoal de Sorocaba, então, por esse viés, a doença serviu para esse lado bom”.
Contrário ao retorno
O Governo de São Paulo voltou a liberar os jogos do Campeonato Paulista após fase emergencial na última sexta-feira (9). O Santo André retorna hoje aos gramados, justamente contra o São Bento. “Os clubes dependem do campeonato voltar, nós entendemos isso. Já passamos por isso no ano passado, mas acho que a saúde de todos os envolvidos é mais importante, não penso isso porque tive a doença, já tinha essa opinião antes. Por mais que a Federação procure fazer o seu melhor e seguir protocolo, nenhum deles é 100% seguro. No futebol, não existe nada seguro para esse tipo de pandemia, pois envolve muita gente”, ressaltou.
Por fim, depois de tudo o que ele viveu e viu, dentro do hospital ou fazendo suas orações em pensamento, Paulo Roberto Santos fez um pedido. “Você não tem noção de como você fica nos dias que a doença realmente ataca, porque ela tem um processo, dias críticos, coisa de outro mundo. Eu acho que as pessoas precisam ter essa noção, porque daí não fariam o que elas estão fazendo. O que tenho visto é uma falta de respeito com o próximo. Fiquem em casa. Ela pega qualquer um, novo, velho, atleta... Ela pegou, ela destrói com você. As pessoas deveriam levar a sério”, finalizou. (Marina Bufon)