Em carta aberta, Corinthians se diz contra a retomada do futebol neste momento

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Sanchez admitiu os impactos da covid-19 nos cofres dos clubes e reconheceu que é hora de se preocupar com vidas, se solidarizando com as famílias que tiveram perdas. Crédito da foto: Danilo Fernandes / Framephoto / Estadão Conteúdo

Em uma carta aberta divulgada nesta terça-feira (26) em seu site oficial e em suas redes sociais, o Corinthians se posicionou contra a retomada do futebol no Brasil neste momento em meio à pandemia do novo coronavírus. Assinada pelo presidente Andrés Sanchez, o clube diz que é preciso articulação e que o futebol não pode se antecipar ao controle do vírus.

"Depois de 23 mil mortes causadas pela covid-19, todo debate é menor. Por isso, em nome do Corinthians, manifesto antes nossa solidariedade a cada brasileiro afetado por doença, luto, ou prejuízo profissional. Tudo isso importa", escreveu Sanchez na carta. "E é legítimo que o futebol - como qualquer setor - procure saídas junto ao governo federal e a seus respectivos estados, prefeituras e federações, a fim de impedir um aprofundamento da crise na atividade. É preocupante, porém, que o Brasil viva um cenário muito diferente daqueles países que retomam suas ligas".

O presidente do Corinthians elogia os esforços feitos pela comunidade do futebol brasileiro, mas pede mais diálogo para definir uma melhor forma de as competições serem retomadas.

"Somos testemunhas dos elogiáveis esforços da CBF, da Federação Paulista de Futebol e de outros clubes. Mas é preciso repensar, de forma ampla, o papel do futebol e sua influência nesse jogo. Na Alemanha, houve diálogo intenso entre todos os agentes políticos e esportivos, e um princípio foi claro para a Bundesliga: o futebol não pode se antecipar ao controle da pandemia. Quando a sociedade confiou no sucesso do combate alinhado entre governo e estados alemães, a Bundesliga finalmente retomou seus jogos em sincronia, no último dia 16. Houve responsabilidade com seu produto, seus astros e seu público", disse.

Sanchez admitiu os impactos da covid-19 nos cofres dos clubes e reconheceu que é hora de se preocupar com vidas, se solidarizando com as famílias que tiveram perdas. "A queda de receitas já obrigou muitos clubes a executar cortes e demissões. O Corinthians tem adotado medidas de austeridade, como a redução temporária de salários e jornada, apoiada na MP 936. Fazemos e refazemos as contas diariamente, mas somos realistas: trata-se da pior epidemia no país nos últimos 100 anos, e nenhuma atividade econômica sairá dessa sem transformações inevitáveis".

"No Corinthians, não será diferente. O que não muda é o nosso compromisso com um futebol forte como carro-chefe e a parte social como tradição, e é para isso que estamos trabalhando. Como também vemos o clube como um veículo capaz de impactar mais de 30 milhões de torcedores via mídias digitais, levamos informação útil e iniciativas solidárias, com o sonho de terminar a pandemia sem nenhum torcedor a menos", prosseguiu o presidente alvinegro.

O dirigente diz ainda que é preciso união entre os clubes. "O futebol brasileiro, porém, caminha para outra direção. Se o combate ao vírus não tem alinhamentos entre os governos, no futebol as reações estão ainda mais fragmentadas. Com decisões facultadas aos Estaduais, criam-se ruídos. Em 2020, a Série A tem 20 clubes de nove estados, cada um com panoramas distintos da doença. Isso pede um trabalho mais coordenado entre governos, clubes e federações. Num esporte coletivo, não dá para jogar sozinho". (Estadão Conteúdo)