'Ainda temos tempo para negociar', diz Merkel sobre Brexit
A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou nesta quarta-feira (16), que "ainda temos tempo para negociar" um acordo sobre o Brexit, em função de eventuais propostas da premiê britânica, Theresa May. "Ainda temos tempo para negociar, mas esperamos, agora, o que a primeira-ministra proporá", disse Merkel à imprensa. "Lamento muito que a Câmara dos Comuns britânica tenha rejeitado o acordo de ontem à noite (terça)", acrescentou.
"Queremos que as perdas - haverá, em qualquer caso - sejam as menores possíveis. Então, claro, tentaremos encontrar uma solução ordenada conjunta", completou Merkel. O acordo concluído por May obteve apenas 202 votos contra 432 na Câmara dos Comuns, a mais forte derrota por um líder britânico desde a década de 1920. A indústria alemã manifestou, por sua vez, uma preocupação mais clara com um Brexit "caótico". "Um Brexit caótico se aproxima perigosamente", advertiu o presidente da Federação Alemã da Indústria (BDI), Joachim Lang, que avalia em mais de 175 bilhões de euros o volume de troca comercial entre os dois países.
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"Evitar um Brexit duro deve ser a prioridade, e a responsabilidade por isso é unicamente do governo e da oposição em Londres", acrescentou Lang. Em caso de saída desordenada, sem um período de transição para amortecer o impacto, as relações econômicas entre o Reino Unido e a UE serão regidas pela regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), e uma multidão de controles aduaneiros deverá ser posta em prática em caráter emergencial. "Não é possível, na minha opinião, realmente se preparar para o caos", afirmou o diretor da Câmara Alemã do Comércio (DIHK), Martin Wansleben, em entrevista à rádio pública.
"Se o Reino Unido não tiver mais as mesmas regras que na Europa, se eles tiverem de pagar taxas, vai se tornar cada vez mais irrealista e economicamente irracional, para toda Europa, produzir num país desses", acrescentou. A indústria química e farmacêutica alemã não acredita, porém, em um "colapso das cadeias de abastecimento", cujos "custos ultrapassariam nosso setor". O Reino Unido é o oitavo mercado mundial. "Medidas de transição são inevitáveis para reduzir os efeitos mais nefastos, e isso é particularmente válido para o fornecimento de medicamentos para o Reino Unido", declarou o presidente da federação VCI, Utz Tillmann. "Espero que a política britânica encontre um meio de evitar o pior cenário", acrescentou.
Do lado da indústria automotiva, o presidente da influente associação de construtores alemães VDA, Bernhard Mattes, advertiu contra um Brexit sem acordo, que seria "fatal", com "pesadas consequências para as empresas e para os cidadãos na Grã-Bretanha e na Europa". Várias fábricas alemãs de automóveis estão no Reino Unido, sobretudo, da BMW. Sem uma solução "ordenada e viável" - disse Mattes, em um comunicado -, "empregos na indústria automotiva, particularmente no lado britânico, estão ameaçados". (AFP)